Estado Islâmico está a transformar-se no “perigo número um”

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Dia 29 de junho de 2014. O líder do grupo Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, declarava o estabelecimento de um califado na Síria e no Iraque. Um ano depois, a Europa e o mundo estão em alerta máximo. As secretas europeias temem esta segunda-feira a realização de outros atentados, quando se assinala o primeiro aniversário da proclamação do califado – depois de uma sexta-feira negra marcada por cinco atentados em cinco pontos do globo: em França, no Kuwait, na Tunísia, na Somália e na Síria que causaram pelo menos 262 mortos.

Para Luís Tomé, professor universitário e especialista em terrorismo e segurança interna, os ataques levados a cabo na sexta-feira pelo autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) já eram previsíveis, devendo a comunidade internacional estar alerta face à possibilidade de novos atentados : “Estamos muito próximos do primeiro aniversário da proclamação do califado na Síria e no Iraque, que se assinala no próximo dia 29 de junho. Já era de prever atos terroristas devido ao simbolismo da data”, disse ao Expresso o docente.

Isso significa que a ameaça do grupo terrorista “aumentou significativamente, uma vez que consegue ultrapassar as medidas de reforço de segurança em termos globais, demonstrando a sua capacidade de levar a cabo ataques quase sincronizados de grande envergadura. No fundo, revela uma capacidade do Estado Islâmico que nos deve preocupar”, acrescenta.

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Também José Manuel Anes, ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade e Terrorismo (OSCOT), frisa ao Expresso os ataques desta sexta-feira demonstram a “expansão alarmante” do grupo terrorista. “Esta série de ataques revelam grande capacidade operacional do Estado Islâmico de desencadear atentados em vários pontos do mundo. O Daesh está claramente a substituir a Al-Qaeda, transformando-se no perigo número um do terrorismo”, observa o especialista, apontando por exemplo para a recente aliança entre o Estado Islâmico e o grupo Boko Haram, na Nigéria.

José Manuel Anes salienta a “componente selvática” da atuação do Daesh, como mostra o caso de decapitação esta sexta-feira em Lyon. “Podemos pensar que é um exagero num ímpeto, mas isto tudo é claramente pensado. O Estado Islâmico tem um domínio muito grande em termos de guerra psicológica e propaganda. Com esta selvejaria assustam por um lado os inimigos e por outro conquistam mais radicais para aderirem ao grupo”.

Aumentar a cooperação entre autoridades

Ambos os especialistas defendem que é vital aumentar a vigilância, nomeadamente sobre os cidadãos que foram combater com o Daesh e regressaram depois aos seus países de origem. “Só de França estão a combater com o Daesh cerca de 1500 cidadãos no Iraque e na Síria, além dos que estão referenciados noutros países europeus. É preciso aumentar o empenho para resolver os conflitos na Líbia, no Iémen e no Afeganistão”, diz Luís Tomé.

José Manuel Anes defende, por sua vez, que é preciso aumentar a cooperação entre as polícias e os serviços de informação europeus. “As medidas estão a revelar-se claramente insuficientes. Para já a permuta de informações é a primeira linha de combate para prevenir estes ataques. Em França houve qualquer coisa que falhou, mesmo com as lições recentes dos ataques à redação do Charlie Hebdo e a um supermercado em França. Tudo indica que o indivíduo de Lyon já tinha sido referenciado. É preciso reverter todo o procedimento para ver onde falhou. Não podem acontecer casos destes novamente no coração da Europa”, conclui.

O passado dia 26 de junho ficará para a história como uma sexta-feira negra. Em França, ocorreu de manhã um ataque a uma fábrica de gás industrial perto de Lyon, que causou um morto (decapitado) e dois feridos. Na capital do Kuwait, pelo menos 27 pessoas morreram e várias ficaram feridas por volta do meio-dia num ataque suicida numa mesquita com cerca de dois mil xiitas. Na Tunísia, outro atentado numa praia em Sousse causou 39 mortos, incluindo uma portuguesa, enquanto na Síria morreram pelo menos 145 civis num ataque com carros-bomba na cidade de Kobani. Estes quatro atentados foram reivindicados pelo Daesh.

Na Somália, o grupo Al-Shabab levou a cabo um ataque à base de Missão da União Africana (AMISON), que terá causado pelo menos meia centena de mortos.

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