Espanha conquista Euro: do biscotto ao caramelo de Badajoz

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Espanha sagrou-se bicampeã da Europa (4-0, à Itália) e continua a dominar o futebol contra tudo e todos aqueles que dizem que o seu jogo é aborrecido. Talvez o seja – porque ganham tanto.

Podem dizer-nos que os espanhóis estavam mais descansados, que tiveram azar e nós sorte, mas a ideia que fica é de que Portugal foi a única seleção capaz de impor respeitinho à Espanha. A Itália, que eliminara tranquilamente a Alemanha nas meias-finais, não trincou o biscotto da final – antes, foi degustada como um caramelo de Badajoz. A Espanha é a equipa com mais títulos europeus (4), alcançou o resultado mais desnivelado (4-0) em finais desta competição, e fê-lo frente à única equipa que lhe tinha marcado um golo no Euro-2012. O futebol dos baixinhos é grande de mais para quem quer que seja.

MINUTO 14′ O golo de David Silva, de cabeça. Caro leitor, enfrentar a Espanha nunca é fácil mas mais difícil se torna quando se sofre um golo quando ainda não passou aquele quarto de hora em que o mais fraco tem por missão defender-se do mais forte.

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MOMENTO O sprint de Jordi Alba que resultou no 2-0 da Espanha. Se os italianos achavam que ainda havia ali qualquer coisa para explorar, o lateral do Barcelona cortou a direito, direito à baliza. A defesa transalpina pareceu estar em modo pause e Alba em fast forward. E o jogo entrou em stand by, apenas porque foi para intervalo.

HERÓI É o anti-herói Vicente De Bosque. O estilo bonacheirão esconde um mestre na arte de dominar o balneário: no Real Madrid, comandou os galácticos e teve sucesso onde os outros falharam; na Espanha, lidera um conjunto que poderia estar partido pelas guerras Real-Barça. Se estava ou não em cacos, nunca o saberemos, até porque Del Bosque os terá colado com sabedoria.

ESTRELA Balotelli é a estrela para o futuro. Se aquela cabeça que abana com o andar gingão ficar bem presa entre os ombros, este italiano pode chegar longe. Lutou, esperneou, entrou duro e procurou a sua sorte. A continuar assim, ela chegará. Tem é de falar menos: disse que marcaria quatro aos espanhóis, acabou por encaixar quatro.

JOKER O Natal não é sempre quando um homem quiser; às vezes, o Natal é quando Di Natale quiser. Entrou para o lugar de Cassano (esteve a léguas da exibição frente à Alemanha) e ainda abanou a defesa espanhola. Quem agradeceu foi Balotelli, que pareceu mais espevitado com este pai Natale por perto.

VILÃO Não é que ele tenha culpa, porque as lesões musculares acontecem a quem anda lá dentro, mas Thiago Motta esteve apenas cinco minutos em campo. Saiu agarrado à coxa e a Itália, que esgotou com ele as três substituições, entregou-se. Bastava ver Pirlo a bater os livres com ar de frete para perceber que o jogo já tinha dado o berro para o lado italiano.

SEGREDO Os espanhóis queixam-se de Vicente Del Bosque porque o homem não põe Torres, Llorente ou Negredo na frente. Certo. Mas a verdade é que a Espanha joga melhor sem uma referência no eixo de ataque e os seus adversários jogam pior pela mesma razão. Defender o que não se vê – e apenas se cheira quando passa – é muito difícil.

ERRO Presumir que o futebol espanhol é aborrecido – também assumo a minha quota-parte. A Espanha é aborrecida e entusiasmante quando quer porque parece controlar o tempo e o adversário em quase todos os momentos do encontro. Portugal fê-la suar as estopinhas, é verdade, porque explorou ao máximo os pequenos instantes em que o jogo lhe foge dos pés.

NÚMERO Seis. O número de anos que a Espanha leva a dominar o planeta do futebol: Euro-2008, Mundial-2010 e Euro-2012. Nunca se viu nada assim, nem no tempo da outra senhora, da RFA, que conquistou Euro-1972, o Mundial-1974 nas falhou no Euro-1976. Os espanhóis reescreveram a história deste desporto.

ACONTECIMENTO Pedro Proença foi o primeiro português a arbitrar uma final de um campeonato da Europa. À falta de melhor (seleção nacional) fica o consolo de ver um dos nossos no jogo mais importante do ano.

AMANHÃ Não há. O Europeu acabou. Agora, e para realidade nacional, voltam os treinos do Seixal, do Olival e de Alcochete; as contratações e as promessas goradas; os ficheiros secretos e as AG.

Ficha de Jogo. Estádio Olímpico de Kiev (Ucrânia). Árbitro: Pedro Proença (Portugal). Espanha: Casillas; Arbeloa, Piqué, Sérgio Ramos e Jordi Alba; Busquets, Xabi Alonso e Xavi; Silva (Pedro, 59′) , Fábregas (Torres, 75′) e Iniesta (Mata, 87′). Treinador: Vicente Del Bosque. Itália: Buffon; Abate, Barzagli, Bonucci e Chiellini (Balzaretti, 21′); Pirlo; Marchisio, Montolivo (Motta, 57′) e De Rossi; Balotelli e Cassano (Di Natale, 46′). Treinador: Cesare Prandelli. Golos: 1-0 (Silva, 14′), 2-0 (Alba), 3-0 (Torres, 84′), 4-0 (Mata, 88′).Cartões amarelos a Pique (25′), Barzagli (45′)

Pedro Candeias, enviado ao Euro-2012 (Rede Expresso)
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