Editorial: Fernando Reis
Quatro anos depois da introdução das portagens na Via do Infante, a EN125 volta a liderar a lista das estradas mais perigosas do país, de acordo com o relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR). Só em 2015, morreram em acidentes de viação no Algarve, 42 pessoas, a maioria das quais na EN125.
A razão pela qual a EN125, voltou a transformar-se, outra vez, numa verdadeira estrada da morte é óbvia e foi antecipadamente prevista, no momento em que o governo teve a infeliz ideia de introduzir o pagamento de portagens na Via do Infante.
Para além de ser uma via construída com fundos comunitários e sem custos para o utente, a Via do Infante serviu, durante vários anos, para desviar o intenso tráfego que circulava na EN125, com reflexos directos na redução da sinistralidade rodoviária.
Contudo, na ânsia de gerar receitas para combater o défice público, o governo de Passos Coelho concretizou a ideia de Sócrates e ignorando as consequências negativas dessa medida, quer em termos económicos, retirando competitividade à economia regional quer em termos humanos, com o incremento de uma sinistralidade rodoviária que se tinha conseguido reduzir significativamente, avançou com a medida, apesar da intensa contestação que, desde logo, se gerou.
Para tentar iludir a opinião pública, fez-se crer que com uma obra de requalificação da EN125, esta se constituiria facilmente como boa alternativa para os que não quisessem pagar portagem. Infelizmente, como sempre o afirmámos, a EN125, por mais obras que lhe façam nunca será uma alternativa válida e segura à Via do Infante. Depois que foi transformada numa grande avenida, onde proliferam rotundas e semáforos, sete anos depois de ser iniciada, a sua requalificação continua por concluir, os seus pontos negros a provocar acidentes e a fazer vítimas que a colocam, de novo, no top da sinistralidade rodoviária nacional.
Há valores e direitos, como o direito à vida, que não devem ser sacrificados por uma qualquer necessidade de recuperação económica. Como disse, há anos, o ex-presidente Jorge Sampaio, a verdade é que “há mais vida para além do défice”.
O problema é que a questão das portagens como muitas outras que oneram o bolso do cidadão comum, não nos convencem da sua inevitabilidade. Antes pelo contrário, a sua única justificação parece ser a facilidade com que permitem realizar, no imediato, determinada receita para os cofres do Estado. Nada mais!
Não queremos terminar, sem deixar de sublinhar a hipocrisia dos políticos e partidos que, enquanto na oposição defendem a abolição das portagens e depois no poder, tardam em ser consequentes com as suas posições, propondo reduções de taxas, que não passam de meros paliativos que não resolvem o problema de fundo.
É preciso dizer não às portagens. A luta tem que continuar!
Fernando Reis
Bom dia,
Tem mesmo a certeza que a maioria das mortes devidas à insegurança rodoviária no Algarve ocorreu na EN125?
Se tem, a sua certeza está errada. Ou está errado o seu conceito de maioria.
Como está, terrivelmente errada a sua ideia que a A22 (Via do Infante) é uma via segura.
Falar sobre números que não sabemos, ou podemos, consolidar e, por isso, interpretar, releva da ciência nacional por excelência, o achismo, baseado no palpite, medido pelo achómetro e cujos intérpretes são os palpitadores.
Já era altura de, em Portugal, e sobre segurança rodoviária, acabar com está ciência, seus instrumentos e especialistas.