CRÓNICA MARAFADA

O pai de Vila Nova de Cacela

 

Se há localidades que nasceram do papel, no Algarve o melhor exemplo é o de Vila Nova de Cacela.
Para melhor entendermos isso, temos de recuar aos tempos em que Cacela foi uma das principais praças algarvias, essencial na defesa e na administração do território.
Teve foral (de D. Dinis) em 1283 e o castelo de Cacela é um dos que estão representados na bandeira nacional. Isso basta para ilustrar o que acabo de escrever.
Depois, com o terramoto de 1755, tudo mudou. As populações foram-se afastando do mar e ocupando quintas diversas mais a norte: Buraco, Venda Nova, Caliço, Bornacha, Coutada, Pedra Alva, Torre dos Frades, etc.
Cacela, que se mantinha sede de concelho e até tinha alargado o território sob sua administração, perdeu essa dotação passados 20 anos.
Já no séc. XX, com a 1ª República, a freguesia de Nossa Senhora da Assumpção de Cacela passou a sedear-se oficialmente no Sítio da Igreja, uma aberração que terminou quando em 1927, estando António Óscar de Fragoso Carmona no poder, tinha como Ministro do Interior um afamado juiz algarvio chamado José Ribeiro Castanho.
Em janeiro de 1927, a poucos dias de ser deposto, José Castanho conseguiu convencer Carmona a criar uma nova vila, com sede exatamente no local delimitado pela quinta do Buraco (a oeste) e a Venda Nova (a leste), para nova sede de freguesia.
É por isso que José Castanho, o verdadeiro pai de Vila Nova de Cacela, está homenageado na toponímia local.
Um erro colossal consta das biografias de José Castanho: referem que ele nasceu em Vila Nova de Cacela, quando esta localidade ainda não existia em 1875: nesse ano, ele nasceu, sim, mas na freguesia de Nossa Senhora da Assum-pção de Cacella.
Dirigiu em 1903 o Almanach do Algarve. Chegou a juiz, exerceu em diversas comarcas (por exemplo, em Portimão e em Monchique) e até no Tribunal do Comércio, no Tribunal da Relação de Lisboa e no Supremo Tribunal Militar (onde foi exímio no julgamento da golpada de 19 de outubro de 1921), foi Ministro do Interior de 12 de julho de 1926 (após o golpe que acabou com a 1ª República…) até 18 de agosto de 1926 e de 1 de novembro de 1926 até 25 de janeiro de 1927.
Em fevereiro de 1927, esteve preso e prestes a ser abatido pelos liberais e esquerdistas republicanos, no golpe falhado do Reviralho que provocou 150 mortos e cerca de um milhar de feridos.
Foi condecorado com a Grã Cruz da Ordem de Cristo.
Faleceu em Lisboa em 1946, com um currículo de mérito como magistrado, político e escritor.

João Xavier

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