CRÓNICA DE FARO: O ciclo das “feiras outonais”

Com a vinda estação outonal, que se deseja, com a maior veemência nos traga chuvas, que bem necessárias o são, ante este clima de calamidade no que aos ciclos de meteorologia se refere, chega também o período das “feiras de outono”, um tempo que, posto a globalização que também varreu o sector, cria um clima diferente nas suas múltiplas feições. Diferentes, muito diferentes, são as feiras de hoje comparadas com o que eram há décadas atrás, nos tempos da nossa meninice, para não se efectuar a viagem temporal ao longo dos séculos desde a sua criação. Tinham então um peso económico, sobretudo no desenvolvimento das economias dos concelhos, bem diferente do que aquele que hoje comportam, em que o abastecimento para todo o ano de “coisas imprescindíveis ao quotidiano”, que se adquiriam quase só e apenas nas feiras, hoje voltadas para o divertimento, as modernas tecnologias, o “comes e bebes” ou os produtos vindos maciçamente dos países orientais (China, Índia, Bangladesh, etc.) a par da demonstração de atividades associativas ou autárquicas locais.
A feira era o tempo em que muitas e estranhas gentes invandiram as terras e “as maravilhas” se conheciam como fenómenos raros e de pasmar as bocas. Era-o também a altura de comprar os “cachuchos”, os anéis de grandes pedras e outros artigos em ouro, volvidos que apanhados estavam os produtos da terra e do mar já se haviam levantado as “armações do atum”. Muitas dessas compras iam parar na “crise invernal” ao “prego”, que o mesmo é referir que hipotecados à espera de boas safras ou boas colheitas no ano seguinte. Era também a vinda de grandes circos, chamávamos de “barracões”, com as suas orquestras próprias e os desfiles pelas ruas de cidades e vila, anunciando o cartaz e com destaque próprio quando era “dia de dama e cavalheiro”, que o mesmo é significar que só com um bilhete entravam duas pessoas, naturalmente e obviamente de sexos diferentes. O Luftman, o Royal e tantos outros bichos e homens que faziam arregalar os olhos ante as artes e exotismo exibidos.
O pontapé de saída das ditas “feiras maiores”, sem que se pretenda com esta referência diminuir as das restantes localidades, era dado como a “Feira de São Miguel” que se assentava arraiais em Olhão, tendo por fundo a imponência do Serro do Arcanjo Celestial e tinha dia maior a 28 de Setembro. Depois era a corrida, sotavento em fora, com a “Feira de São Francisco”, a 4 e 5 de Outubro, em Tavira e, comercialmente, a mais importante do Algarve, de modo próprio quando não se falava no euro e o câmbio escudo/peseta era uma fonte de negócio, a “Feira da Praia”, em Vila Real de Santo António, ali à beira Guadiana, com dias principais de 10 a 13 de Outubro e uma invasão de espanhóis, quando o passaporte era um luxo e só concedido a alguns e as facilidades aduaneiras, em troco do que acontecia no sentido inverso pelas “Angústias ” em Ayamonte. A 20 de Outubro era o dia maior da “Feira de Santa Iria”, em Faro, talvez a de melhor organização, iluminação e outros atrativos, indo depois o estranho e controverso mundo da feira de abalada para a “Feira dos Santos” (31 de outubro e 1 de novembro), em Silves, seguindo-se o certame em Portimão (10 e 11 de novembro – Feira de S. Martinho) e terminando o périplo em Lagos, com dia principal a 20 de novembro.
Evocar as feiras de Outono no Algarve é falar de um tempo em que há um outro Algarve e todos os anos volta a acontecer!

João Leal

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