É deveras lastimoso e a pedir uma urgente intervenção o estado em que se encontram duas relíquias do património construído farense, obras que pelo seu mediatismo e história bem merecem outra consideração e escrevemos mesmo respeito e reverência por parte das entidades competentes.
O primeiro trata-se do velho “celeiro” situado no Ferragial/São Francisco coincidente com parte das muralhas citadinas, único no seu género, alvo de várias pesquisas e eruditos escritos por parte de veneráveis historiadores, entre os quais é de registrar o académico professor António Pinheiro e Rosa. Ao longo das décadas este “celeiro” tem sido, como que um filho bastardo e rejeitado na sua merecida e exigida conservação. Algumas obras parcelares não o salvaram da ruína em que se encontra e o Município e a Delegação Regional de Cultura do Algarve têm, de imediato e já, de algo fazer para evitar a sua total destruição e com ela mais uma machadada e bem forte no espólio de património construído, ao longo dos séculos e este “celeiro” vários os tem de existência, na capital sulina.
O segundo trata-se de uma propriedade de particulares, a família Aboim Ascenção, com muitas notáveis acções em prol da cidade e do Algarve, como o atesta “urbi et orbi” (“à cidade e ao mundo”) essa obra admirável que é o Refúgio Aboim Ascenção, a Casa da Criança. E se esta é um modelo quer institucional, quer funcional, o mesmo se não pode dizer da apreciada torre hexagonal situada paredes meias e em terreno separado pela Rua Ascenção Guimarães, da obra dirigida pelo ultra dedicado Dr. Luís Villas Boas, que nada tem a ver com a construção em apreço, porque se ele fosse responsável “onde galo cantaria” e não estaríamos aqui a alinhavar este texto de reparo.
O local onde as “meninas Ascensoas”, as jovens da prestigiada e benemérita família farense, ali passavam as suas tardes, nas mais variadas funções, desde o bordar e artes afins ao merendar e musicar, num bucólico lirismo próprio daquelas épocas. O sempre saudoso coronel engenheiro Manuel Aboim Ascenção de Sande Lemos, um dos mais acrisolados farenses que conhecemos na nossa já longa vida, tinha pelo local um culto especial, talvez pela razão de que a sua exemplar esposa e prima ali ocupasse os seus tempos de logradouro, na juventude. O “torreão das Ascensoas” está com as janelas aos bocados e em breve será, tal como para lá caminha, um montão de indesejáveis ruínas. O Município e a família proprietária têm que intervir para salvar este memória da cidade de Aboim de Ascenção.
João Leal