Não é fácil aguentar Portugal para quem exige do mundo uma cota de inteligência que não seja inferior às das mulheres nos aparelhos partidários. Ser confrontado com alguém que amesquinha o valor histórico de um palacete do século XIX abandonado até às chamas pode parecer coisa restrita a tertúlias de província.
Ouvir um diretor de uma escola secundária argumentar que se optou por não atribuir um patrono à instituição por se entender que a escola pertence à comunidade é coisa de sábios circunscritos, e ainda bem para as comissões toponímicas, aos corredores do ensino. Como se sabe não faltam ilustres defuntos a querer sair do túmulo para cobrar imposto de passagem, ou de memória, nas ruas e estradas do país.
Dar uma volta por uma dessas escolas, onde o Ministério da Educação investiu muitos milhões de euros para que os alunos e docentes não pudessem invocar condições materiais quando se trata de avaliar o aproveitamento escolar, e ver a pintura que a direção encomendou aos alunos de artes para colocar na entrada principal pode ser uma verdadeira descida os infernos.
Se o analfabetismo continua a ser grave no caso das artes é crónico. Basta ver o que se expõe por essas galerias municipais e as mostras que ainda perduram dos artistas concelhios. A limitação geográfico como critério de curadoria, por si só, tem tanta validade como as mostra de artistas com dois dedos na mão esquerda e três na direita.
Que os professores de uma escola secundária façam encomendas de telas onde os alunos representam o melhor que sabem os lugares, edifícios e monumentos mais significativos da cidade pode ser atitude residual no nosso sistema de ensino. Mas depois olha-se às rotundas de qualquer cidade do país e percebe-se a inutilidade das excursões à Gulbenkian ou a Serralves.
O busto do patrono do aeroporto da Madeira, ou como consideraria o tal diretor da escola secundária, a estátua da cabeça do Cristiano Ronaldo que está no aeroporto de sua propriedade, não é um fenómeno da Madeira.
Por vezes a inclinação é pensar que isto se deve à distância da capital, das universidades onde se estuda pela qualidade de ensino e não pelo life style que as cidades onde elas estão instaladas oferecem.
Depois abrimos um jornal nacional onde se dedicam 4 páginas a um prestigiado advogado e ao acabarmos de ler a entrevista a dificuldade que temos é perceber como existimos ainda como país.
Quando o questionam sobre as elites considera que elas têm alguma responsabilidade no estado das coisas. Duas ou três perguntas depois, o advogado, ele próprio parte dessa elite, a propósito dos nossos governantes diz que tem um teoria. Imagine-se o que este ilustre advogado que se faz fotografar na presença da sua coleção particular de arte contemporânea teve capacidade de formular por si. Os homem gordos tendem para o otimismo ao passo que os magros são mais pessimistas. Teoria dele, já se disse.
Elites que têm a capacidade de pensar assim deixam-nos apaziguados com o lugar onde vivemos. Até para quem habita nas periferias do pensamento percebe de imediato como pensar com os pés é coisa ordinária entre fronteiras.
Salvador Santos