CARLOS ALBINO

 SMS

Essa palavra generosidade

 

Não é falta de tema, nunca houve tanto tema, mas ocorre falar dessa palavra generosidade em política que é coisa tão necessária ter ou dar a entender que se possui, que não há ladrão, corrupto u calculista que se meta na vida pública que não comece por enganar meio mundo tudo fazendo para se mostrar homem generoso, ou, já agora, mulher generosa. Se conseguir a fama da generosidade, o ladrão, o corrupto ou o calculista acertou na tecla e com isso dá o primeiro passo para uma carreira paradoxalmente impoluta. Já o político que nunca tenha roubado nem alguma vez tenha sujado as mãos com tráfico de influências, se não tiver essa fama está desgraçado, mesmo que jure pelas esquinas que foi sempre e será sempre generoso. Ou seja, todos, do ladrão ao impoluto, reconhecem e sabem que em política a generosidade é uma qualidade imprescindível mas a coisa só se complica quando a fama não corresponde aos factos. E complica-se de tal modo que o ladrão que tenha conseguido a fama de generoso a ponto de ninguém acreditar que não o seja mesmo que os factos digam o contrário, esse pode continuar a roubar ou preparar-se para roubar muito mais que cada roubo surgirá aos olhos da opinião pública como ato de generosidade. E isto porque entre o ladrão e o impoluto há uma grande diferença: o ladrão sabe pintar a manta e o impoluto não sabe nem quer saber que a manta tem que ser pintada. Se houvesse espaço para desenvolver esta ideia da generosidade que em política parece ser não sendo nada disso, até poderíamos dizer que o ladrão, na ânsia de granjear a fama de generoso, é em tudo mais coerente que o impoluto. O ladrão é de uma coerência extrema em mostrar-se generoso, dos pormenores ao geral, até porque a sua generosidade não obedece a princípios. Já o impoluto é um incoerente na matéria, acreditando em nome dos princípios que a sua generosidade fala por si, esquecido de que a generosidade nunca fala e se falasse ninguém acreditaria nela. Não há espaço para desenvolver a ideia, mas ainda cabe dizer que a falta de liderança política na região ou em cada partido da região (não confundir chefias com lideranças) tem muito a ver com falta de generosidade dos políticos cuja fama de generosos, se é apenas fama, não os salva. E é este o problema do Algarve. Não há generosidade e quando ela parece que existe, não passa de mera fasquia comum aos que, por cultivada coerência, sabem roubar, e aos que, por inadvertida incoerência, jamais querem roubar e nunca roubaram.  

Flagrante pergunta: A de Mendes Bota ao governo, sobre o prolongado encerramento da Pousada de São Brás, encerramento esse que é mais um exemplo de como o turismo no Algarve é tratado com os pés.
 

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1 COMENTÁRIO

  1. Das generosidades

    Em pleno momento da “silly season”, torna-se mais difícil de demonstrar a eloquência da generosidade. Provavelmente, também ela andará a banhos.

    Mas contudo, gostamos muito mais de entender o conceito de tráfico de generosidades pelo desgastado, de influências. O tráfico de generosidades torna-se um conceito muito mais fraternal e menos exuberante. A generosidade anda de mão em mão, pela despretensiosa (bica) tomada num qualquer café, quase a despropósito, pelo almocinho cheio de intimidades, pela palmadinha nas costas, pela nota (18) na escola para o adolescente que um dia será brilhante. E nesta gastronomia de afectos tudo fica mais adocicado – mais generoso.

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