CANELA mais FINA: Se haveis sido indigitados para cuidar bem de nós…

Opinião de Luigi Rolla

Há tempos, num fim-de-semana de Inverno, passeando em Monte Gordo à beira-mar, vi numa poça, um peixinho prateado que não tinha mais de cinco centímetros de comprimento. Estava vivo e resolvi agarrá-lo para lançá-lo ao mar, porque se não morreria antes que ali chegasse de novo a maré. Depois pensei… despejei a garrafa que tinha com água doce, enchia com água salgada e meti lá dentro o peixinho. Tinha curiosidade em ver quanto tempo duraria um peixe de água salgada em cativeiro. Chegado a casa, corri contra o tempo, indo buscar água salgada suficiente para encher um aquário que tinha sido anos atrás, durante muitos meses, o reino de um peixinho vermelho de água doce. Criei um habitat tanto quanto possível semelhante àquele a que Hermafrodito (foi este o nome que lhe pus, não sabendo se era “pargo” ou “parga”) estaria habituado. Com o passar dos meses fui adaptando a “sua casa” ao seu crescimento e passados dois anos e meio, Hermafrodito é agora um lindo e saudável peixe com cerca de três quilos, e com um apetite voraz, pesando consideravelmente no orçamento familiar devido à quantidade de “ração” que ingere diariamente.

Hermafrodito é muito inteligente – ainda que não seja “azul” -. Conhece toda a família, agitando freneticamente a cauda quando um de nós se aproxima do aquário ou piscando o olho quando quer comida. Quando vejo na rua os cãezinhos de estimação, presos por uma trela, passeados pelos seus donos, e com demasiada frequência fazendo cocó – não me refiro aos donos, mas sim aos cãezinhos -, fico com inveja por não poder, também eu, passear Hermafrodito, imaginando-o envergando uma capinha “dos chineses” para o proteger dos rigores do siberiano Inverno algarvio, ou na Primavera com um lacinho cor-de-rosa no alto do toutiço…

Há poucos dias, Papa Francisco, no decurso da habitual audiência jubilar proferida na Praça de São Pedro, disse […] «Não a quem ama cães e gatos mas é indiferente perante o próximo.» Queria Papa Francisco dizer que não devemos confundir a piedade com a compaixão que sentimos pelos animais que vivem connosco. Porque, sucede muitas vezes, sentirmos este sentimento para com os animais, e ficarmos indiferentes perante o sofrimento dos nossos irmãos.

Se bem que não seja o meu caso, porquanto eu não tenho nem cão nem gato, mas sim um peixe, senti que Papa Francisco também se dirigia a mim…

Não sei o que pensa o deputado do PAN sobre a intervenção do Papa, ele que legitimamente defende que a alimentação e os gastos de saúde dos animais de estimação contem para o IRS “como mais um elemento da família” e que seja reconhecido no Código Civil “um terceiro tipo de pessoa, para além da pessoa singular e da pessoa colectiva já existentes”.

Estou convencido que as posições do Papa Francesco e do Deputado do PAN não são incompatíveis.

Eu, entretanto, perante esta próxima emancipação dos animais domésticos, já comecei a preparar-me e a semana passada levei Hermafrodito a fazer fotos tipo passe. Ele quis saber para que eram as fotografias e expliquei-lhe que eram para fazer o “Cartão de Cidadão” e o “Cartão de Eleitor”, e agora não me deixa tranquilo um instante, porque quer tirar a “Carta de Condução”. Expliquei-lhe que só poderá tirar a carta aos dezoito anos. Só estou na dúvida se também terá direito a Abono de Família e Reforma…

Pelo sim pelo não, já comecei a guardar as facturas dos gastos que tenho com ele, e quando somei as despesas de Abril fiquei gelado: electricidade para aquecimento do aquário; tratamento da água; alimentação, que inclui camarão fresco uma vez por semana (não quer de aquacultura…); medicamentos e consultas de veterinário; produtos de beleza, etc. é uma conta calada! E este mês vai ser ainda pior, porque Hermafrodito entrou em depressão. Já fui com ele ao psicólogo, que me diz ser normal na puberdade e que deveria encontrar-lhe uma companhia… Eu, no entanto, não partilho a opinião do psicólogo… Hermafrodito ficou traumatizado por ter visto na TV um documentário de culinária em que davam uma receita de “pargo no forno com batatinhas novas”…

Abordei o tema com humor, mas pergunto-Vos seriamente:

– «Será que os nossos Digníssimos representantes parlamentares não terão outros assuntos mais prementes para resolver, antes de pensarem no IRS e na “cidadania” dos nossos fiéis amigos?»

Digníssimos “representantes de todos nós”, faço-Vos uma proposta “aqui ao pé da porta”: Entrem uma vez na vida num hospital público… e no Hospital Distrital de Faro ide ao Serviço de Urgências ou soli-citai uma consulta de Ortopedia!… Vereis – certamente – que gatos, cães e pargos são importantes, mas não prioritários…

Fernando Pessoa disse uma vez: «O homem não sabe mais do que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que devem saber. Nós não!»

E Anatole France disse: «Enquanto não amares um animal, uma parte da tua alma viverá nas trevas.»

E eu digo: «Se haveis sido indigitados para cuidar bem de nós e sois incapazes de fazê-lo, como podeis pensar em cuidar bem deles?»

P.S.: – Parabéns a todos os homenageados pelo Município vila-realense no passado 13 de Maio no C.C. António Aleixo.

Luigi Rolla

 

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