CANELA mais FINA

Que sorte a minha…

Quero partilhar convosco um assunto sério com um sorriso… amarelo. Fui sempre contrário a qualquer jogo de azar. Sempre soube não ter sorte ao jogo, ainda que só tivesse posto à prova esta minha intuição duas vezes. Também não sei se isto significa ter sorte ao amor… Só sei que todas as vezes que joguei, “fui arrastado” e perdi […] uma vez, no Casino de Cannes, fiz uma vaquinha com uns amigos. Nem entrei na sala de jogo e passado pouco tempo, os “meus sócios” saíam, tendo perdido os poucos francos investidos na nossa sociedade. Alguns anos depois, em 1961, chegou a Portugal o Totobola, que eu já conhecia de Itália (Totocalcio) […] a mesma sociedade “forçou-me” a fazer uma vaquinha, à qual aderi a contra-gosto. Passadas algumas jornadas com prejuízo, saí da sociedade. Os meus “sócios” procuraram convencer-me a não desistir, mas mantive-me irredutível. Eles continuaram a jogar durante mais algum tempo, mas também não enriqueceram… Entretanto, eu continuei intuitivamente sem sorte ao jogo mas também sem tentar, até que um dia…

[…] o carteiro trouxe uma carta. Uma daquelas cartas que quando entram pelo “buraco do correio” e vemos que o remetente é a “AT – Autoridade tributária e aduaneira” […] pegamos-lhe com as mãos trémulas, a transpirar e a pensar que todos os possíveis “cataclismos tributários” do mundo vão desabar sobre nós. O nosso primeiro pensamento voa para Ela… Meu Deus, que será que fizemos à Senhora Ministra, para Ela nos escrever uma carta?

[…] descolei os três pontos do fecho da missiva com delicadeza, com medo não fosse desencadear a fusão do átomo, e quando desdobrei a tão nossa conhecida folha A 4, chamou-me de imediato à atenção o valor «10,00 euros» que se destacava dos outros caracteres. Suspirei fundo e pensei: Do mal o menos… li então com atenção toda a epístola, onde me comunicavam que “havia violado o Artº 17º nº 2 IUC (Imposto Único de Circulação) – Pagamento do imposto devido fora de prazo”. Dizia também que a infração respeitava o ano de 2012 e que era “uma coima com redução” e isto deu-me alguma alegria. Pensei de novo: – Que alivio… Sem pensar se estaria certo ou não; se era comigo ou não; se diria respeito ao meu carro ou não; corri ao MB mais próximo e num instante e pela bagatela de 10,00 euros pus-me bem com o Estado e com a minha Consciência. Ufa!… Cumpri a minha obrigação… saldei a minha dívida ao Estado…

Pouco dias depois, “folheando” os jornais na Internet li: «A dívida fiscal supera os 17,8 mil milhões, e do montante total em débito mais de 3,7 mil milhões são considerados incobráveis pelo próprio fisco» e dizia também que «os mecanismos de cobrança dessa dívida existem mas a probabilidade de recuperá-la é muito pequena».

Acompanhem-me no meu raciocínio: «Que sorte a minha… em 3,7 mil milhões de incobráveis (o que significa uma média de 370,00 euros por cada português) , o “mecanismo de cobrança” fora detetar a minha miserável coima de 10,00 euros “acaçapada” no meio de tantos milhões cujas probabilidades de recuperar, diz-se, são quase nulas. Como é que a porra do mecanismo havia “sorteado” a minha coima no meio de tantos sérios e respeitáveis contribuintes morosos, certamente com coimas maiores do que a minha? Será que o mecanismo está tarado para detetar só valores com dois dígitos?… Metafóricamente falando, apetecia-me dizer: – «A coima que pariu o mecanismo de cobrança!…»

Mas não. Não me restavam dúvidas… tudo isto é resultante da SORTE, que depois de ignorar-me durante tantos anos, batera-me à porta… de olhos vendados, escolheu-me no meio de 3,7 mil milhões “de hipóteses”…

«O pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.» (Barão de Itararé)

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Luigi Rolla

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