CANELA mais FINA

A carta que eu escreveria…

…a Barack Obama, David Cameron, Angela Merkel, François Hollande, Ban Kimoon (ONU), Jens Stoltemberg (NATO), Jean-Claude Junker (EU) e a todos os outros “potentes” do mundo livre e democrático, se estivesse certo que eles a liam:

«Ilustríssimos Senhores,

quantas atrocidades terão ainda que ser cometidas, quantos corpos terão ainda que ser dilacerados, quantas gargantas terão ainda que ser degoladas, quantas famílias lançadas no mais profundo desespero, quantos “charlie hebdo’s”, quantos “bataclan’s” – para só mencionar os dramas franceses – serão ainda necessários para que Vós, senhores absolutos das nossas vidas, desperteis do vosso dourado letargo, levanteis os vossos presidenciais traseiros das vossas douradas poltronas e justifiqueis finalmente quanto todos nós vos pagamos, tomando uma atitude de Homens e batendo com o punho nas vossas secretárias griteis bem alto: BASTA!!! Ou será que haveis perdido de vez a coragem de ser homens livres?

A única decisão “valente” que alguns de vós haveis tomado foi implementar medidas restritivas e sancionadoras à Federação Russa perante a crise da Ucrânia. Medidas absurdas que criaram tão-somente um grave problema financeiro às muitas empresas ocidentais que mantinham importantes relações comerciais com eles, afetando gravemente a economia europeia.

Entretanto Vladimir Putin – personagem por quem não nutro muita simpatia, mas que aplaudo agora na sua atitude – interveio na Síria em solitário, mostrando possuir os atributos que distinguem os homens valentes – de que o Presidente Obama não é certamente o paradigma.

Depois da “solidariedade” e dos “discursos de circunstância” perante o “Charlie Hebdo”, que fizemos? NADA! Esperámos pacientemente que outra tragédia chegasse, e fatal como o destino, chegou!

Agora, com mais este drama, voltamos à mesma lengalenga, com mais discursos de boas intenções, mais condolências, mais cortejos de protesto e de solidariedade e daqui a dias… já todos teremos esquecido. Todos menos os familiares e os amigos das vítimas. Já não é tempo de marchas de solidariedade e de conversas moles. É tempo de reagir e recuperar o tempo perdido. É tempo de agir com determinação e contundência.

Entretanto milhares de “refugiados” continuam a chegar à Europa sem que saibamos quantos de entre eles chegam com o propósito determinado de dilacerarem mais corpos e implantarem no Ocidente kafir (infiel) uma grande “república teocrática islâmica”. E nós que fazemos? Cedemos cobardemente, mesmo às exigências dos “muçulmanos moderados”, permitindo-lhes a construção de mesquitas (em muitos casos centros de doutrinamento yihadista e de recrutamento de novos prosélitos do mal). Excedemo-nos no servil respeito pelas suas crenças e particularmente em Itália, onde suprimimos os crucifixos das escolas e dos edifícios públicos, deixámos de fazer o presépio no Natal – símbolos religiosos e tradições arreigados no hábito do Povo há centenas de gerações -, e até banimos a carne de porco das ementas dos refeitórios escolares…

A este propósito narro-vos dois episódios sintomáticos ocorridos há poucas semanas:

1) – Um príncipe herdeiro dos Emiratos Árabes Unidos, um petrodólar chamado Mohammed Bin Zayed Al Nahyani, de visita a Florença, acompanhado pelo primeiro-ministro italiano Renzi, tinha no programa de estadia na cidade-museu a visita a uma exposição do conhecido escultor Jeff Koons, onde destacava a estátua em gesso de um nu masculino denominada “Gazing Ball”. A pedido do chefe do protocolo árabe, a estátua foi discretamente “vestida” com um biombo estrategicamente colocado, com a finalidade de esconder aos olhos do ilustre hóspede as “miudezas” da escultura.

2) – Uma viagem de estudo de uma escola foi anulada porque previa também a visita a um museu que expunha um Cristo pintado por Chagall. A decisão foi tomada por temor que a sua visão pudesse ofender os alunos de religião muçulmana.

Pergunto-vos: Haverá maior exemplo de abdicação e submissão do que estes episódios?

Não obstante, Ilustríssimos Senhores, perante a brutal agressão perpetrada aos franceses, aos ocidentais, em suma ao mundo livre (com ao menos 129 vítimas de 19 nacionalidades diferentes), não vi unanimidade na repulsa a mais este acto barbárico por parte dos “muçulmanos moderados”. Não teria sido esta uma boa oportunidade para muitos dos seis milhões de muçulmanos residentes em França demonstrarem claramente o seu apoio àqueles que os acolhem, gritando em uníssono a sua repulsa contra os seus famigerados “irmãos”?

Não quero que a ausência desta atitude coletiva reforce a impressão – certamente errada – de que não existem muçulmanos bons e muçulmanos maus, mas tão-somente muçulmanos. Está nas mãos deles a demonstração contrária e a este propósito alguém disse: “Os muçulmanos não são certamente todos terroristas, mas a verdade é que todos os terroristas são muçulmanos”.

A si Presidente Hollande, perante mais esta terrível adversidade, felicito-o pela sua firmeza e pelo apoio unanime do povo francês (comovente a saída do Estade de France com todos a cantar la Marseillaise). Entretanto para definir e planificar os próximos passos da guerra ao EI-Daesh, paradoxalmente, perante a tíbia receptividade dos seus pares ao artigo 42.7, em vez de fazer a ronda das capitais europeias dos tratados de Maastrich e Lisboa, rumareis a Washington e Moscovo…

Mea culpa: Constato tardiamente – ao reler o último parágrafo da minha crónica (JA de 19.XI.2015) -, que “fomos todos Charlie Hebdo”, “fomos todos Bataclan”, mas, nem eu nem ninguém “fomos o avião da Kogalymavia” abatido no Sinai. Será que a única “culpa” daqueles 224 homens, mulheres e crianças barbaramente assas-sinados foi a de terem um passaporte russo?…

Desejo-vos muita saúde e faço votos para que Allah vos ilumine nas vossas decisões, já que os Santos em que eu acredito não ligam nenhuma às minhas preces.»

P.S.: Gostei de Vladimir Putin, quando disse – se é que disse – “Perdoar os terroristas depende de Deus, mas enviá-los para junto dele é de mim que depende”.

***

Esta crónica foi enviada para o JA quando eclodia mais um acto terrorista, desta vez em Bamako (República do Mali).

Luigi Rolla

 

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