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A Lithografia

[…] «Litografia (do grego – lithos [pedra] -graféin [grafia, escrita]) é uma técnica de gravura que envolve a criação de marcas (ou desenhos) sobre uma matriz (pedra calcária) com um lápis gorduroso. A base dessa técnica é o princípio da repulsão entre água e óleo. Ao contrário das outras técnicas da gravura, a Litografia é planográfica, ou seja, o desenho é feito através do acumulo de gorduras sobre a superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos como na xilogravura. Seu primeiro nome foi poliautografia significando a produção de múltiplas cópias de manuscritos e desenhos originais.»

Tenho uma pedra litográfica com seguramente um século de existência e com a particularidade de ter um desenho muito elaborado e perfeitamente conservado. Ela recordou-me uma atividade industrial da nossa “vila”, a Litografia e a Latoaria, pouco ou nada referidas pelos nossos historiadores locais.

Quando falamos (escrevemos) sobre a indústria conserveira vila-realense negligenciamos, involuntariamente ou por desconhecimento, a fabricação das embalagens metálicas (latas), elemento fundamental das conservas de peixe. A Litografia (impressão em folha de flandres) e a Latoaria (confeção das embalagens em folha de flandres, vulgarmente chamadas latas) foram um importante setor de atividade da nossa “Vila”, normalmente anexo a cada fábrica de conservas envolvendo várias dezenas de trabalhadores – grande parte deles qualificados.

«Nicolas Appert, industrial francês, descobriu que o aquecimento de alimentos em recipientes fechados poderia interromper o processo de fermentação, iniciando em 1795 a comercialização de alimentos conservados em garrafas.

A conserva em latas teve a sua origem no inicio do séc. XIX: «a marinha militar dos Países Baixos foi quem utilizou pela primeira vez as embalagens em folha de flandres para a conservação em gordura, de produtos alimentares para o consumo humano.» A expansão desta embalagem pelo mundo – com as campanhas militares – só se verificou no séc. XIX com a generalização da appertisation, método de esterilização que deve o nome ao seu inventor Appert. O alimento colocado num recipiente estanque é submetido a uma temperatura superior a 100º C, permitindo destruir numerosos microrganismos e prolongar a conservação do produto.

A Litografia iniciava no Desenho e Transporte, quando a ilustração (desenho decorativo e informativo) era desenhada à mão na pedra calcária. Cada cor que compunha a ilustração obrigava a um desenho (matriz). O desenho era posteriormente transferido (transportado) para papel vegetal e faziam-se tantas cópias quantas eram as latas que cabiam numa folha de flandres. Sendo o ¼ Club 30 m/m (125 gramas de conteúdo) a embalagem mais comum, havia que reproduzir o desenho de 22 corpos e 22 tampas, que era quantas peças cabiam numa folha de flandres “standard” com 28″ x 22″ (medidas expressas em polegadas). Os 22 corpos e as 22 tampas impressos em papel vegetal eram transferidos (transportados) para chapas de zinco (uma chapa por cada cor), onde os desenhos eram “gravados”.

Com o desenho – em negativo – transferido para a chapa litográfica, esta era aplicada no rolo da máquina impressora para efetuar a impressão das folhas de flandres. Cada folha tinha que passar no rolo tantas vezes quantas eram as cores que compunham a ilustração. Cada passagem obrigava a utilizar uma chapa litográfica correspondente a cada cor, e cada cor aplicada obrigava à passagem das folhas de flandres (impressas) pelo forno de secagem afim de fixar a tinta.

A seguir a folha de flandres impressa transitava para a Latoaria onde construiam-se as duas peças que compunham a lata: a tampa e o corpo. Na fase seguinte a tampa era soldada ou cravada ao corpo. Ao fabricante de conservas de peixe chegava a lata (corpo e tampo) e em separado chegava o fundo sem impressão, que o fabricante utilizava (cravava) para fechar a lata hermeticamente com o produto dentro e posterior esterilização (116º C). O consumidor abria a lata pela tampa com a ajuda de uma chave de arame.

Nos primórdios das conservas enlatadas, as latas eram todas “brancas” (sem ilustração) e só posteriormente, o “marketing” e as as exigências legislativas, levaram ao uso da ilustração que tornava a embalagem mais atraente e contendo algumas informações úteis ao consumidor, tais como: Espécie de peixe, Molho de conservação, Peso líquido, Fabricante e País de origem. Posteriormente começou a figurar, o conteúdo em várias línguas e – fundamentalmente – o prazo de validade.

Apareceram depois as embalagens em alumínio com abertura fácil, mas esta é outra história…

Abordada sucintamente e sem pretensões pedagógicas a “vida” das latas para as conservas de peixe, regresso ao fundamento desta crónica: a minha singela homenagem aos POUCOS sobreviventes e aos MUITOS que Deus quis chamar à sua presença, e que labutaram nesta secular e injustamente ignorada atividade complementar às conservas de peixe que como esta não resistiu ao “progresso da Cidade”.

P.S. – Vale a pena ler (está na Internet) o artigo intitulado «Solidariedade sem fronteiras. – Palestina vencerá!» publicado no Avante (órgão central do P.C.P.) de 14.VIII.2014. É um testemunho incomensurável de análise objetiva e independente que permitiu-me “perceber finalmente” o conflito que contrapõe os israelitas aos palestinos, “dissipando todas as minhas dúvidas”. Agora, graças ao Avante, sei quem são os “bons” e quem são os “maus”. É interessante verificar que nas 53 linhas do artigo, não há uma só referência ao Hamas, talvez porque este “grupo”, desde a sua criação em Dezembro de 1987, sempre preconizou “borrar Israel de cima da Terra”, e o jornalista do “Pravda” luso não será independente, mas também não é trouxa…
Luigi Rolla

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