Campanha de células estaminais é “vergonhosa” e tem “falsidades científicas”

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Anúncio à preservação das células estaminais está a ser fortemente condenado. A campanha da Crioestaminal explora “o sentimento de culpa dos pais” e “transmite falsidades científicas”.

Desde que foi lançada, a campanha da Crioestaminal que promove a preservação das células estaminais está a levantar uma onda generalizada de protestos. No spot televisivo, com a imagem de uma criança sentada numa marquesa, uma voz começa por dizer que “há uma hipótese em 200” de um dia ser diagnosticada ao seu filho “uma doença cujo tratamento se pode encontrar nas suas células estaminais ou nas de um irmão”. Doenças como “a leucemia, o linfoma, tumores sólidos”, prossegue a voz em off. No final, a criança pergunta simplesmente: “Mãe, pai, guardaram as minhas células?”

Miguel Oliveira da Silva, obstetra e presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), não teve reservas em dar ao Expresso a sua opinião pessoal. “Acho uma campanha vergonhosa, que perante o silêncio distraído do Estado, comunica falsidades científicas, jogando com o sentimento dos pais”.

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Miguel Oliveira da Silva sublinha que, embora este possa ser um exemplo extremo, as críticas são válidas para a generalidade das campanhas. Refere ainda que, “em Junho ou Julho” o CNECV emitirá um parecer sobre as células do cordão umbilical, reforçando a urgência de o Estado regulamentar esta matéria.

Os comentários negativos ao conteúdo do anúncio têm-se multiplicado também na página da Crioestaminal no Facebook. São, sobretudo, pais que se pronunciam. “Nunca vi um anúncio tao repugnante, que tenta culpabilizar os pais que não puderam ou que por opção não fizeram a recolha e conservação das células estaminais”, escreve Carla Araújo Esteves. No mesmo mural, Diogo Caldas comenta: “Sou cliente vosso e não me reconheço nem um pouco na filosofia comercial e no script do anúncio que agora colocaram no ar. É uma vergonha”.

Numa nota também publicada na página, a empresa reconhece que ao lançar a “campanha de sensibilização” estava consciente da sua mensagem forte. “Era essa a nossa intenção”, pode ler-se.

A nota prossegue com a afirmação de que “são mais de 80 as doenças que podem ser tratadas com recurso às células estaminais do sangue do cordão umbilical” e que “até hoje já foram realizados mais de 25 mil transplantes de sangue do cordão umbilical”. E termina: “Aumentando o número de amostras de células estaminais guardadas, serão cada vez mais as crianças e adultos que poderão beneficiar desta opção. É esta a nossa causa!”

Ao Expresso, o Instituto Civil da Autodisciplina da Comunicação Comercial (ICAP) não confirmou se já recebeu alguma queixa pela campanha em causa, justificando que “as queixas são confidenciais”.

O ICAP esclarece, no entanto, que qualquer pessoa pode manifestar o seu desagrado ou fazer uma queixa, seja através do site do Instituto, seja através de email. Uma vez que o ICAP não atua por iniciativa própria, qualquer campanha só será analisada tendo por base uma denúncia.

Mafalda Ganhão (Rede Expresso)
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