AVARIAS: Um pouco sobre cinema e outras questões laterais

Vejo “Quanto mais quente melhor”, de Billy Wilder, com Tony Curtis, Jack Lemmon e Marilyn Monroe. De vez em quando e obedecendo a não sei que directivas, gostos ou oportunidades, o FOX Movies (como outros no universo do cabo) desencantam muito bons filmes praticamente esquecidos, que se o mundo fosse um lugar justo e bom, havia lugar para todos nós olharmos estas jóias feitas na – digo eu – idade de ouro do cinema. O cinema tem vindo a mudar, e penso eu de que (obrigado Jorge Nuno), não para melhor. Claro que neste preciso momento me estou a armar em justiceiro moral da coisa cinematográfica, o que é, quase sempre, pernicioso, mas não se vão pôr a pensar que sou um velho do Restelo, embora não seja má ideia ser do Restelo. Existem sempre excepções à regra, mas tenho a ideia que o cinema do primeiro quartel do século XXI tem vindo a acompanhar a tendência geral das artes: sai uma obra com público e ela será com um grau de certeza de noventa e cinco por cento, uma grandessíssima merda. Pelo contrário, se estivermos em presença de uma obra marcante, decerto que passará ao lado da atenção do povo – nem sempre injustamente mas isso são outros trocos. A ideia base terá sempre como marco e ponto de partida o facto dos portugueses (e estou a dar um exemplo), sempre que pegam numa câmara, não se limitarem a querer fazer mais um filme sobre, por exemplo, casais que correm as avenidas de Lisboa montados numa mota. O realizador antes prefere ver (a mota) como uma grande máquina cibernética e o casal como enviado da filosofia existencialista, o que podia até ser bom, mas raramente o é. E fazem-no logo em grande estilo, que significa aqui, um número absolutamente alto de grandes planos, cenas de bilhete-postal (ou não), ausência de diálogos credíveis e, em geral, uma história que só é entendível pela existência de uma voz off. Quero dizer, com o que escrevi atrás, que será hoje tão difícil encontrar um filme bom que seja popular (ou vice versa), como um adolescente que não diga “tipo” em cada três palavras de qualquer discurso. Tenho visto algum bom cinema avulso, norte-americano, mas também iraniano, turco e de outras insuspeitas proveniências, mas a tendência geral segue para um risonho embrutecimento.
“Quanto mais quente melhor” é um dos filmes (neste caso, uma comédia aparentemente, e só aparentemente ligeira) de uma época, hoje muito distante, em que havia, por norma, uma certa proximidade do grande público ao grande cinema (que nessa altura era apenas cinema), feito de pequenas nuances, piadas não muito óbvias mas cheias de segundos sentidos, e interpretações superlativas de actores que não precisavam de fazer estágio intensivo em cursos do “actors studio” para construir qualquer personagem credível. Filmes que eram, ao mesmo tempo, divertidos e inteligentes. Claro que existia Marilyn Monroe, por si só uma mais-valia, como se diz agora no futebol e na política, só que mais bonita, frágil e terna. Esperemos pelo futuro.

Fernando Proença

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