AVARIAS: São os tempos

Vejo o noticiário da TVI 24 em que se faz a apologia da praia da Salema, aqui no nosso Sotavento. É apresentada como uma praia das “mais belas e secretas” ou “uma das mais secretas” como era referida na notícia. A mim, aquele tipo de peças, nesta altura do campeonato cheira-me sempre a jeito feito a amigos, mas como digo só me cheira. Além de que a TVI é um canal privado e isso explica o que ela pode fazer e, por exemplo a RTP não. O mais importante da questão (foi a própria TVI a referir que já tinha feito trabalhos anteriores sobre o mesmo lugar) será, no entanto, sempre a praia que os jornalistas dizem ser secreta e que eles querem que, muito rapidamente, deixe de o ser. São os tempos.
Houve um atentado no metro de Londres, perpetrado por um bombista incompetente, que felizmente não matou ninguém. Um bombista incompetente está para um atentado como água do mar quente para as férias de Verão. Melhor que incompetente só um bombista com problemas de consciência que dê um tiro na própria cabeça momentos antes de tentar esse mesmo atentado. Presumo que seja para estas coisas (atentados; problemas com a posse das terras no noroeste português; chatices entre elementos do casal e aborrecimentos com rodadas não pagas aos balcões dos snacks do nosso Portugal) que foi criado o canal CMTV. Pois será durante os momentos em que a emissão se aguenta durante horas a rodar em torno de um caso destes, que se vê a fibra dos jornalistas do mais que popular canal. Mais uma vez a arte de encher chouriços. E como se comprova esta capacidade? Pela forma como se estica uma notícia: por exemplo, numa ocorrência que se tratava em dois minutos a CMTV multiplica-a para, digamos, quarenta. Em comparação a TVI só consegue chegar aos trinta e cinco, a SIC aos trinta e a RTP aos vinte e cinco, já contando com o piscar de olho de José Rodrigues dos Santos. Tudo é feito (no canal do tanto pior, melhor) para os tempos que correm; dizer o que se quer em pequenos ciclos de três/quatro minutos, porque esse é exactamente o tempo máximo, que alguém que não seja indefectível da estação, consegue estar sem mudar de canal. Os outros, os telespectadores profissionais do sangue a escorrer, ao vivo e a cores, hão-de ver e ouvir a mesma conversa uma hora por inteiro e pensar que tudo aquilo são informações novas e importantes. São os tempos.
Não sou exactamente a melhor pessoa para olhar e referir erros de português, mas hoje Domingo, quando observava pelo canto do olho, que habitualmente uso para filmes medíocres (o esquerdo, o que vê pior) vi num filme legendado a palavra “espetador” em vez de “espectador” à antiga. Digo-vos que pensei três vezes (os inteligentes não precisarão de tal, mas é o que se arranja…), quem estava a espetar o quê, em quem, e só três microssegundos depois percebi que ninguém espetava, assistia. São os tempos.

Fernando Proença

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