AVARIAS: Rescaldos

Afinal de contas não existir um muito mau aconte- cimento é mesmo bera para o negócio das notícias: ou seja, com o mal dos outros pode a imprensa – muito- bem. Resolvida – da pior maneira possível – a questão dos incêndios, vem agora o rescaldo. E durante esta semana o mesmíssimo rescaldo chama-se “o que foi feito do dinheiro das pessoas que ajudaram?”. Claro que todos sabemos que numa questão daquelas, complexa e difícil de dirimir, a pressa é inimiga da perfeição. Gostava de crer que é, exactamente isso que se passou, que não se querem fazer erros nem imperfeições que mais tarde serão de muito difícil solução, mas tenho um dedo adivinhador que me diz que não. Mais uma vez (continua a dizer-me o mesmo dedo adivinhador, geralmente mal intencionado) penso que navegamos no mesmo atavismo luso, o que não anda nem desanda. Começámos logo pelo dinheiro, que foi entregue, segundo sei, às misericórdias. Sei que não tenho razões que o justifiquem, mas, se a misericórdia encarnasse num tuga, palavra que nunca lhe compraria um automóvel em segunda mão, só por causa de umas coisas. Depois, como distribuir a massa? Sei que o Estado é cego e que os autarcas, ainda se podiam enganar no deve e haver e mandar construir mais uma rotunda mesmo a meio da estrada nacional 236, mas não caberia a um comissário fazer a distribuição, com o apoio, claro está, de gente local? Há comissários para tudo e mais alguma coisa, também podia haver um para o Pinhal Interior. Sei que não seria fácil estar fora de Lisboa umas semanas, a dormir num miserável hotel de 4 estrelas, mas bem procurado podia ser que alguém se oferecesse. Digo que, quase de certeza haveria alguém que oferecesse o peito às balas, porque onde há vida, há – quase – sempre um português. Por vida posso denominar a partir de agora o já célebre caso da GALP. Existe uma empresa, que não tem dinheiro para pagar impostos, mas onde se arranja sempre qualquer coisinha para fretar um avião. Pois um governante do estado com quem, essa empresa tem um diferendo (embora, aparentemente, o governante, não se relacione com ela), parece que pediu boleia para França, mais o resto a que pensava ter direito, para ver um jogo de futebol. Segundo consta foi qualquer coisa como três mil euros. Seria que pensavam que por pedirem pouco ninguém iria notar? Afinal quantos já fizeram o mesmo e outros ainda o farão? Ao menos que pedissem um barco igual ao do Ronaldo, durante uma semana, que sempre valeria quarenta mil euros. Além de que teriam gasóleo à borla.
Olho a televisão e vejo mais fogos: aqui, um helicóptero é sempre um meio aéreo, a área do fogo o “teatro de operações” e as pessoas que ajudam a apagar fogos, vigiam as suas casas, ou, simplesmente falam com os jornalistas, deixam de ser, subitamente pessoas e passam a ser “populares”. Os “populares” só deixam de o ser quando chega algum político ou granjola, como os comandantes da protecção civil; aí passam a ser individualidades. Sempre é um bocadinho diferente, geralmente pior.

Fernando Proença

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