AVARIAS: Parece-me mal

Toda a gente fala do interrogatório de José Sócrates e o Avarias não podia ficar atrás; pronto já falei, agora vou ali tirar o peixe da grelha… mentira!!! Faz sentido que não deixem cair a discussão em saco roto, há que manter o nível, mesmo muito mau que seja. A intervenção actual está dividida em quatro categorias principais: os indefectíveis do PS, que veem os partidos políticos como militância religiosa ou clubística e que só podem esperar que todo o processo seja uma armação do caraças. Esses, até podiam saber que José Sócrates tinha roubado a esmola a um pedinte na rua, que pensariam que o cego se preparava para se aliar ao Juiz Carlos Alexandre para armar uma cilada ao ex-primeiro. Para eles, Sócrates será inocente, mesmo depois de ser considerado culpado e ter confessado. Depois existe uma segunda categoria, constituída por militantes de qualquer partido da zona PSD, CDS, não capitaneados por João Miguel Tavares e que esperam sinceramente que Sócrates seja condenado, esperando pela justiça. É uma minoria esclarecida, mas existente, mais no género das bruxas: nunca ninguém os viu, mas que existem, existem. A terceira categoria é constituída por militantes do PSD, CDS capitaneados por João Miguel Tavares, que já condenaram Sócrates e esperam que neste tempo que vai entre o andamento do processo e a declaração da sentença, e por um bambúrrio, seja instituída em Portugal a pena de morte via cadeira eléctrica, enforcamento, câmara de gás, fuzilamento, guilhotina (momentos depois do enforcamento), tudo ao mesmo tempo ou praticamente em simultâneo. Com os restos mortais a serem sepultados em rocha, no mínimo a quinhentos metros de profundidade porque em matéria de Sócrates não se pode facilitar. A quarta categoria será a que em parte recolherá as simpatias de muitos portugueses e por que não, de parte de mim?, e pensa o seguinte: vai tanto tempo entre o início do processo e a sua conclusão que, sinceramente, na altura em que comecei a ver as notícias de que a SIC ia mostrar o interrogatório a José Sócrates, pensei que o homem já tinha sido julgado e condenado. Depois existe a posta do rabo restante que une os (a pequeníssima parte dos) portugueses que seguem tudo aquilo com um interesse profissional, ou a parecer que é profissional, que sabe os tempos da justiça, que os respeita, que será incapaz de culpar ninguém antes que um tribunal o faça e que pensa realmente que a justiça não deve ser instrumentalizada politicamente. Há aqui uma parte (pequena) de mim, a que não cede ao espectáculo nem ao julgamento popular e devia ocupar completamente a cabeça dos directores dos jornais e das televisões que se dizem imparciais e portadores em pessoa de todas as virtudes da boa imprensa. O problema é que a boa imprensa não gera lucros substanciais nem audiências e um director de programas há-de defender até aos dentes a sua escolha, mesmo que esta seja um nojo, que a transmissão do interrogatório de Sócrates se pareça com certos julgamentos russos e checos, em que o réu antes de ser culpado já o era. Mesmo que aqui o seja.

Fernando Proença

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