AVARIAS: Palavra que não entendo

Já escrevi isto antes e por isso não estando a navegar no mundo das novidades, não me é dado perceber o dever de imparcialidade (quando jogamos com a estranja) dos nossos comentadores desportivos. Tudo começou, na minha cabeça, aquando dos grandes incêndios do Pinhal Interior. No meio daquela confusão, o que deu aos nossos jornalistas para demonstrar a importância dos factos, foi mostrarem as notícias sobre os incêndios, publicadas na net, vindas do The Guardian, The Times , El País, El Mundo, e no geral em tudo o que tenha nome e fama e possa passar por órgão de informação importante. Lembro-me de pensar que, exactamente naquela altura de grande tristeza, o que me interessaria menos, talvez fosse saber o que os lá de fora pensam de nós. Aliás este procedimento – de escutar atentamente o que pensam dos lusitanos, não começou na altura dos incêndios, mas, suspeito, há pelo menos tantos anos quanto temos de povo independente. Não nos basta o que somos e o que sentimos (só para lhes dar um exemplo), mas a nossa condição de, a uma vez, os piores e os melhores do mundo, com um intervalo de quarenta e cinco segundos, que tem que ser escrutinada e abalizada pelos de fora: só assim existimos, só assim somos completos. Por isso esta paranóia (mesmo que seja na fase de enchimento de chouriços dos noticiários, compilando o que tem interesse (20%) e o que não tem (80%), pela ideia que fazem de nós, tugas impenitentes. E que ninguém se lembre de pensar que podemos ser parciais com os de fora, eles que nos olham com tanta brandura. Num certo sentido acho bem: talvez esta seja a base da razão que nos leva a aceitar os estrangeiros como poucos países do mundo o fazem. E mesmo que estudo academicamente exemplares nos demonstrem o contrário, a sensação com que ficamos no final de tudo é que não temos problemas com quem vem de fora. A pior face é que tudo isso desemboca numa certa subserviência: lembro-me da fama que nos anos oitenta, os árbitros espanhóis tinham, quando as nossa mal apetrechadas equipas se deslocavam aqui ao lado para jogar uns particulares e ganhar algum dinheiro. Só não nos roubavam o couro e o cabelo se não pudessem. Em Portugal, pelo contrário tudo é sempre um mar de rosas para as equipas que nos visitam nos particulares do principio de época, o que, em princípio, e em nome da livre e sã convivência entre povos, me agrada; mas só nessa condição. Os mesmo árbitros que se comportam de uma forma irresponsável (para usar uma fórmula muito diluída), nos jogos caseiros, fazem exibições impecáveis quando uma das nossa equipas defronta qualquer adversário estrangeiro que nos visite. Toda esta conversa para lembrar o que já disse: ouço os nossos comentadores, e como olham para o Portugal – México dizendo, depois de uma oportunidade perdida pela equipa adversária, que esta podia e devia ter feito muito melhor, não fosse a extraordinária inépcia dos seus avançados. Outra vez a treta da imparcialidade. Um mexicano podia fazer melhor? Fazer melhor, num jogo contra nós, será eles meterem, no mínimo, cinco golos na própria baliza e ainda festejar. Afinal somos por quem?

Fernando Proença

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