AVARIAS: Os níveis das notícias

O excesso de notícias em circulação, conduz, mais cedo ou mais tarde, a problemas de relativismo, de traço marcadamente pessoal. O que quero dizer com isto será que, se não formos completamente desprovidos de senso, vai aparecer a altura em que olhamos para a televisão e perguntamos – de preferência a nós próprios – por que razão não conseguimos perceber qual é a notícia mais importante, se as festas da fogaça na aldeia de Sernan-celhe (é apenas um exemplo. Servem os Santos Populares em Lisboa ou o Sto. António no Porto), se a questão dos mísseis na Coreia do Norte? Dei por mim a fazer essa e outras perguntas aos meus botões, quando desfilaram na minha frente, o terramoto do México, os variados furacões no Hemisfério Norte, Trump mais as suas parvoíces, o referendo na Catalunha, mais a eterna questão da ocupação hoteleira no Algarve. De quantos níveis precisaremos para engavetar as notícias na nossa cabeça?
No nível três da máxima importância estarão as nossas eleições autárquicas. Eu, cínico profissional, espanto-me sempre com o número de pessoas que anda atrás dos candidatos com uma bandeirinha na mão. As que seguem ao lado e imediatamente atrás não tem que saber, estão directamente implicados no partido em causa e esperam um resultado que os deixe mais perto dos poderes. Mas os que vão atrás dos da frente, meus amigos?, aquela gente que apoia os partidos como se de clubes se tratassem, impante nas arruadas, que é uma das palavras mais feias do nosso dicionário? A palavra de ordem – a que tenho visto mais usada, são duas: “sempre juntos” e “mais e melhor”, esta caso os candidatos estejam no poder. Por via disso ficamos a saber que esses mesmos candidatos são pessoas como nós, que mandaram quatro anos, nem sempre bem, mas em que a partir de agora vão dar só boas notícias. Essa mesma malta é, parece, muito semelhante aos vulgares mortais, só que com direito a um pouco mais de mordomias, não muitas que o tempo é de vacas magras. O “sempre juntos” lembra-me sempre as empresas que pagam miseravelmente, usando “outsorcing”, mas para quem os empregados são “colaboradores”, sempre com uma palavra a dizer na organização das actividades, menos se por um bambúrrio do caraças forem despedidos.
No nível dois estão os furacões e sismos; fizeram umas vítimas mas não foi exactamente aqui ao lado, e pede a boa prática que estejamos atentos mas não demasiadamente, e digo isto sem nenhuma segunda intenção.
No nível superior estão as trapalhadas de Trump, com o maluco da Coreia do Norte. Sempre pensei que todo aquele arrazoado não ia dar em nada, mas agora, depois de terem sido disparados mísseis de pólvora seca, mas mísseis, não sei o que se pode passar. Já não bastava o Daesh, agora também os coreanos, com a razão que José Luís Peixoto lhes deu. E se houver guerra corre-nos mal a todos.
Para completar o primeiro nível, a Catalunha: vai ser uma chatice é o que lhes digo. Não gosto de nacionalismos e de espanhóis em geral, além de não me pareceu nada bem a carga policial dos de Madrid; vão pagá-la com juros. Mas vejo nos dirigentes catalães uma camarilha de pequenos fascistas, capazes de tudo para atingir os seus objectivos. Dizem-no, por exemplo, humanistas de sempre como Fernando Savater, Juan Marsé,  Felix de Azúa e Mario Vargas Llosa, que perceberam os tiques e golpes, do golpe maior que é o referendo.


Fernando Proença

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