Opinião de Fernando Proença
Nestas alturas (campeonato do Mundo ou da Europa, todos de futebol) aparecem sempre as amplas discussões sobre quem é mais importante: a massa ou o molho? E – essa é a pergunta de um milhão de dólares, dirá a nossa classe média fascinada pelo fraseado dos filmes americanos – quem sabe do que fala sobre queijo e tomate, como nós conhecemos as nossas próprias mãos? Pois nem mais nem menos que Marco Bellini ele próprio, mestre da poda, quero dizer da piza! E quem são, a massa e o molho nesta conversa?, pois os que gostam de futebol acima de todas as coisas, contra os que gostam de todas as coisas acima do futebol. Para além de tudo existe um facto novo em trinta anos: o dos portugueses que dizem ser o seu clube a selecção. A selecção? Existem más-línguas que afirmam a pés juntos que o único português que gosta mesmo da selecção (e não é toda), é o empresário Jorge Mendes, mas eu não acredito. Será certamente o caso dos muitos tugas que desempacotam as cabeleiras, os cachecóis, e até pintam a unhas para apoiar os moços da equipa das quinas, sempre que entra em campo. Mas isso é um processo natural, se somos portugueses havíamos de apoiar a Espanha? O mais difícil é pôr as coisas em modo relativo: tirando a selecção que clube apoiamos? Eu sou do Olhanense, outros serão do Fanhões, mas a maioria são dos – chamados – três grandes. Ser-se da selecção como clube é como ir almoçar com as colegas e pedir sangria pra acompanhar o prato. Não tiram partido (pelo vinho. Mais caro, de escolha mais complexa), então decidem-se pelo mais fácil (a sangria).E reparem que eu falei no feminino. Gostar da selecção como clube é uma das consequências das feminização do futebol. Até à pouco tempo, as nossa formidáveis raparigas apenas toleravam o calcio. Depois começaram a interessar-se pelo jogo, mas chegaram numa altura em que ninguém é verdadeiramente de ninguém, tirando o Benfica, Sporting e FêCêPê. As que sobram só podiam ser da selecção.
Tenho uma amiga que tem um amigo que conhece uma pessoa que sabe que a porteira do prédio onde mora, vê futebol em sítios na internet em modo de pirataria. Esta informação que lhes presto é absolutamente fiável, e dentro do espírito de abertura a novas influências que o “Avarias” vem demonstrando, estamos em crer que pode valer um bom negócio com os serviços secretos de um pais saído do Pacto de Varsóvia. Com a Coreia do Norte não, pagam mal e um gajo tem que apresentar um corte de cabelo regulamentar, o que visivelmente não e o meu caso. O espião português que vendeu o segredo à Rússia, não bastando ter um nome que não lembra a ninguém, vem com a cara escarrapachada em tudo o que é sítio. Sinceramente não fazia a ideia que os nossos agentes andassem assim a mostrar-se à sociedade (como lembrou Jaime Pacheco, num dos seus dias maus). Sempre me pareceu que um agente secreto devia ser mesmo secreto, mas, provavelmente, não estava a ver bem as coisas. O homem deve ter feicebuque com perfil, fotos e isso tudo. E diz que passava factura. Agora que eu pediria mais que dez mil euros pela informação, não tenham dúvida. Que segredo vale menos que um carro em segunda mão? Que os tanques da NATO não têm marcha atrás?
Fernando Proença