AVARIAS: Escrever um livro como se fosse um imenso feicebuc

Opinião de Fernando Proença

 

Se eu fosse outro gajo e não este vosso leal servo, já tinha por todos os meios possíveis relido e escolhido uns artigos do Avarias, para os colocar em livro quais pérolas preciosas, quais nascentes de água pura. Arranjava contactos com uma dessas editoras que publicam qualquer coisa e juro, que já tinha dado à estampa uma compilação (palavra terrível) dos meus menos maus artigos. Quem é que os iria ler, isso já é outro nível de discussão, embora o princípio seja: nunca se deve atirar a toalha ao chão (que rima com discussão). Parece que há gente para tudo, para escrever, para ler, para ter que andar a promover páginas e páginas de letras desinteressantes (menos para o autor), e não fosse isso uma reputada seca, ainda ter que dar autógrafos. E convencer as pessoas da importância de o lerem, o que mostra bem o nível das ideias que podem passar pela cabeça de um autor. Vem este arrazoado a propósito de uma leitura que fiz em diagonal, de um certo e determinado livro que vai ser publicado por uma certa e determinada figura pública (nacional). Respeita o livro (pelo menos assim o percebi) a um membro directo da família que apresenta – segundo me parece – um quadro clínico de um distúrbio psicológico / doença. Ora o que a figura pública diz em sua defesa é: vou pôr à estampa a vida da minha filha, para que outros pais, outras famílias não passem pelo mesmo e possam estar alerta. Mas escrever sobre um distúrbio psicológico, não uma linha, um texto, mas um livro inteiro, equivale a dizer que toda a vida dessa pessoa vai ser posta a nu. Não por um jornalista menos escrupuloso de um jornal de má índole, que arrancou a confissão por chantagem ou esperteza saloia mas pela própria mãe (ou pai), que devia, em princípio, ser um dos fiéis guardiões da vida privada familiar. Ou seja, ou é mentira o que lá se diz, ou toda a gente vai saber tudo sobre os aspectos mais ou menos sórdidos da existência de uma pessoa que está doente e que deviam ser do forno interno (obrigado JJ); dela própria e da sua família. Cá para o rapaz, expor a vida desta forma por um dos mais próximos é, pelo menos, inescrupuloso. Eu sei que existem razões que assistem sempre o contador da história, sendo a maior, nos tempos que correm, a de “compartilhar com outros a nossa dor e ajudar outras famílias”: compartilhar nos dias de hoje é como o porco, aproveita-se tudo. O que me leva a pôr uma outra questão: se eu estou a ver bem, este é um dos casos em que alguém menos bem-intencionado podia dizer que há gente que faz dinheiro com tudo, até com a desgraça. Não estou a dizer que será o caso, mas da fama não se vão livrar.

Fernando Proença

 

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