AVARIAS: E isto ainda vai piorar

Escrevo no final do jogo Sporting – Benfica. Pouco mais houve a assinalar durante a semana. Pode ser uma grande infelicidade o que estou a pensar, mas a única hipótese de um Sporting – Benfica (ou vice–versa, ou Benfica FêCêPê, etc. etc.) ser relegado para segundo lugar no alinhamento dos noticiários, era dar-se uma hecatombe no Mundo, como um ataque nuclear dos malucos da Coreia do Norte. Mesmo assim, no início do noticiário das treze do CMTV diriam: “Pyongyang fez explodir mais uma bomba termonuclear nas ilhas do Japão. Trinta milhões de mortos confirmados. A nuvem radioactiva que já chegou à Europa condicionará recuperação de Jonas para o jogo de sábado à tarde?” Voltando de novo ao que me traz aqui: o que mais me impressionou nesta charola de loucura geral a que o país se entregou, foi que a generalidade dos canais de TV portugueses, confirmou maus hábitos antigos. Com uma antecedência de quinze dias fez o que faz antes de qualquer jogo de futebol em que entrem os chamados três grandes: levou a debitar lugares comuns, entrevistas sobre o resultado e marcadores dos golos (tudo feito nas respectivas casas, fora de Lisboa. O apoio à regionalização chega por caminhos ínvios). E demonstrou à saciedade (sociedade, segundo o dicionário de sinónimos de JJ), que nunca alguém põe a mais pequena hipótese daquilo chegar aos noventa minutos num empate. Ganha este ou aquele. Passa para a frente, fica atrás, o campeonato está definitivamente resolvido, ou não. Vai ser um grande jogo de futebol. Depois, chega-se aos noventa minutos, o jogo foi uma treta e acabou como começou, empatado.

Na fossanguice das semanas anteriores, de ser o tal jogo do título que depois acaba por não o ser, morreu um italiano em confrontos entre claques. Parece-me pouco contada esta história que acabou como sabem, mal. A questão é que as televisões têm muita culpa neste cartório, onde põem a sua cara mais séria, a clamar por calma e serenidade. Parecem-me sempre a chorar lágrimas de crocodilo, mas isso sou eu a tergiversar. Não percebo (perceber, percebo…) o que os leva a isso, afinal são eles, os canais TV, que mais contribuem para esta ansiedade, esta tolice geral, com reportagens na frente da claque que se dirige para o estádio. Lembro-vos que um jornal diário de grande tiragem, guardava uma página só para as claques; ou seja mais espaço que o andebol, o basquetebol e o atletismo juntos. Mais achas para a fogueira: a polícia a dizer do grande risco que envolve o jogo, os comentadores que se sucedem (parece que já deram a volta a todas as possibilidades de os encontrar. Primeiro treinadores no desemprego e teóricos de pacotilha que nunca deram um pontapé numa bola. Políticos.O inenarrável Luís Freitas Lobo. Mais treinadores recém chicoteados. E claro, por último, como um relógio parado que está certo duas vezes por dia, também gente interessante – Ribeiro Cristóvão, David Borges e poucos mais) numa loucura, que se propaga pelas cabeças do povo unido, que se pode mostrar radicalizado… pelos resultados do futebol. Depois queixam-se de que cada vez mais, esta é a medida de todas as coisas.

Fernando Proença

 

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