AVARIAS: E eu é que sou parvo!

Opinião de Fernando Proença

Peço desculpa por me andar a aborrecer com os nossos canais de notícias. E quem diz canais, pode quer lembrar os noticiários dos canais generalistas. Há quem diga (más línguas…), que eu só falo mal, que não reconheço uma reportagem benfazeja, um programa de se tirar o chapéu, uma novela digna de um prémio Bobel. É mentira: reconhecer, reconheço, mas às vezes ando com uma candeia acesa pelos sendeiros da nossa vida dedicada à secção do audiovisual, e não entrevejo nada que possa ser laureado. Existem boas séries, nos canais por cabo, bons filmes, que no entanto passam por não ser matéria feita para televisão. No resto existem coisas boas, verdadeiros momentos de emoção e discrição (sim, a discrição é mais importante do que pode parecer. Num mundo do espectáculo a todo o custo, ver documentários que não apelam ao choro nem ao escândalo – mesmo que hoje não nos escandalizemos com nada – devem ser valorizados, mesmo por um céptico profissional como eu),um trabalho que recorde pessoas, que tudo indica cairiam no maior esquecimento (exemplo: Perdidos e Achados, SIC), só pode ser uma boa ideia. E muitas vezes as melhores surpresas chegam-nos de onde menos se espera: a Sport TV, só para vos dar um exemplo, faz bons documentários/peças sobre treinadores que já não treinam quando tudo se encaminharia para que tivessem uma carreira longa e frutuosa, jogadores de futebol que tiveram que deixar de jogar e depois retomaram, ou não. Em geral gente que se superou, que envelheceu sem perder tudo o que os fez conhecidos; pessoas tão importantes como todos nós, que passaram pela fama (umas vezes absoluta, muitas outras, relativa: a pequena fama de rodapé, que não enche páginas de jornal), agora fora do mundo, a não ser o das redes sociais. O que eu critico em TV (secção jornalismo), se isso me é concedido, é a moderna preguiça que ataca a informação um pouco por todo o lado, consequência do para-quem-é-bacalhau-basta. Não digo que façam por mal, não chego a tanto. Mas porque dão ao público aquilo que pensam que ele precisa, fazendo a pontaria, exactamente ao que para eles próprios é o suficiente. Para quê ouvir os dois lados de uma questão, quando um chega e sobra? Aqui não será despiciendo pensar, que gente que se formou academicamente na velocidade, como ai jesus de carreira, venha agora a relantizar o trabalho em nome de um cuidado na análise que não lhes parece de todo necessário.

TVI, noticiário da noite, regata de barcos à vela, o jornalista de serviço, a propósito da velocidade que podem atingir, diz que, e cito: “chegam aos 25 nós, o que significa 60 quilómetros por hora”. Um pouco mais tarde em rodapé, a notícia é exactamente a mesma “Barcos atingem 25 nós, que são 60 quilómetros /hora”. Mas isso, como os meus leitores sabem, não é verdade: 25 nós, significam, para quem consulte rapidamente um dos sítios na net, preparados para fazer conversões, são 49 km, mais uns pózes. Dirão; mas onze quilómetros de diferença será muito?, farão grande diferença? Não, se a diferença entre as velocidades fossem entre mil quilómetros e mil e onze quilómetros. Mas sê-lo-ão, em números na roda dos cinquenta. Se o erro fosse só na locução não o seria, mas na escrita envolverá já um trabalho de bastidor, que pela amostra não se fez. E eu é que sou parvo…

Fernando Proença

 

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