AVARIAS: As peneiras, o português e a azia

1 – Enquanto ando em exercícios de aquecimento para dar início ao meu texto, elemento essencial para os meus leitores descarregarem as suas frustrações, espreito a internet. Por internet designo blogues e um ou outro sítio do costume. Os bloguistas portugueses (alguns mais avançados e inteligentes, pelo menos deve ser essa a sua ideia), têm, em geral, uma tendência acelerada para incluir nos seus textos passagens em inglês, sem tradução. Não precisam de me atirar em cara sobre os meus problemas com a língua de sua majestade Isabel segunda; sei o que sou. Mas o que resulta mais que certo que o Natal em Dezembro é que os únicos blogues que conheço (além dos tugas)com mais citações no mesmíssimo inglês, são os assinados pelos ingleses… Os nossos vão pensar que lhes caem os parentes na lama se fizerem a tradução? Existirá um certo e visceral medo que algum dos seus amigos lhes chame a atenção por algum erro, decerto involuntário, cometido? A verdade é que existem blogues de autores portugueses que são quase integralmente escritos em inglês. Se o seu amor pelos textos originais é tão grande, por que não fazem o mesmo com textos alemães? E russos? Para mim são peneiras…

2 – Já a dobragem dos filmes me parece, na sua grande parte, um mau serviço. Não passou muito tempo desde que neste espaço me referi ao facto, que penso ser um problema mais complexo do que pode parecer à primeira vista. Relembro-o aqui porque me parece (sem ter feito nenhum trabalho académico que o comprove), que além de comprometer o contacto com as línguas estrangeiras (tenho a certeza que, em parte, será o escolho com que os espanholitos se defrontam quando falam as tais línguas), que eu já tinha referido anteriormente, ainda atrasa o desenvolvimento da leitura nas nossas criancinhas. Desde cedo que tive no desenrasca, tentando perceber as legendas que me permitiriam perceber o filme, a forma de ajudar a aprender a ler. Hoje, época das trevas em tudo o que exija esforço e concentração, não ser obrigado ao extra de perceber o que os nossos legendadores (não sei se será assim que se escreve, mas vocês sabem do que estou a falar) traduzem, mesmo com erros aqui e ali, fará recuar um tempo precioso no desenvolvimento da leitura dos nossos alunos. Para mais as vozes originais de muitos dos filmes são de actores de nomeada, bem diferentes de alguns dos nossos aprendizes, tarimbados nas novelas e será uma boa ocasião para visitar o original. Relembro que não estou contra toda a dobragem. Penso que os filmes para miúdos muito pequenos (até 5 anos) deverá ser salvaguardada, mas não mais do que isso. Vejo que neste caso terá sido o lóbi dos actores a levar a melhor. Sou solidário com as suas necessidades, mas não vejo que a todas as suas exigências tenham que ser satisfeitas. Mais; penso que esta será uma discussão que devia ter lugar, no âmbito da sociedade que discute estas coisas. No entanto parece-me que este problema (como outros que não vou trazer agora à lidação), não têm hipótese nos tempos que correm, exactamente porque existem discussões que não podem ser feitas só porque não podem. Dariam, com toda a certeza, azia a muita gente. E de momento ninguém quer sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde.

Fernando Proença

 

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