AVARIAS: A televisão que temos

Opinião de Fernando Proença

Um tipo anda pelos canais portugueses e invariavelmente terá que se deparar com programas sobre futebol. Uma mesa, um moderador, três ou quatro convidados e está a maré feita. Neste momento, para aí noventa e oito por cento do tempo de emissão dos canais nacionais, divide-se entre telenovelas, paineleiros de futebol e um ou outro programa de política/economia. De todos estes, os da economia são os mais aborrecidos. Gente muito senhora de si, que sabe o que é bom para o país, que, enfim, tem a certeza absoluta do que se tem que fazer para gerar dinheiro, fazer empresas que resultem e pagar a dívida portuguesa. E que vemos depois? Que, tirando um ou outro caso pontual, são uma cambada de tesos que não têm onde cair mortos. É que para encontrar gente ligada à economia que subiu na vida, temos que escarafunchar bem fundo no chamado tecido partidário. Moral da história: o economista bom não é o economista de grande sabedoria e peito aberto às vicissitudes da vida empresarial, mas o que teve que usar o partido para estabelecer laços e ligações, com vista a uma melhoria sustentada da sua vida económica; ou seja os economistas em matéria de fazer dinheiro são, na prática iguais a você, caro leitor amigo. E se calhar não deviam.

Os convidados que falam sobre futebol situam-se na minha hierarquia pessoal, mais ao menos ao nível dos economistas/futuros políticos. Muitas vezes são divertidos e folgazões mas noutras são como os economistas, tristes, demasiado cheios de – falsas – certezas e com o nariz muito empinado. Eles não falam mais sobre este ou aquele jogador, este ou aquele clube, só porque não lhes apetece. Possuem o conhecimento enciclopédico, que para os adultos está ao nível da malta do meu tempo, quando era nova e coleccionava cromos pré – Panini (acho que eram obra da defunta (?) Agência Portuguesa de Revistas). Sabem exactamente tudo sobre cada jogador (número que calçam, composição familiar, com as respectivas rupturas. Ou seja, nada que não se perceba depois de uma aturada e atenta, visita aos respectivos feicebuques) e dão constantemente mostras disso. Além de todo o conhecimento enciclopédico descrito atrás, ainda dominam uma extensa gama de pequenas histórias que vão destapando, em cada conversa, mas sempre com meias palavras, piscadelas de olho e pequenos apartes, onde é mostrado o nível de comprometimento geral dos paineleiros com uma vasta gama de segredos que fariam corar os agentes mais endurecidos do KGB. Sobre táctica nem vale a pena falar: dormem com ela. Ou seja, eles chegariam facilmente ao melhor, exactamente onde outros não souberam fazer bem as coisas. O problema é que numa grande parte das vezes os críticos são tão bons ou tão falhados como os criticados. Muitos dos ditos paineleiros são treinadores no desemprego, a quem alguém meteu uma cunha para aparecer num programa sobre futebol. Isso, porque a vida dos treinadores é como os interruptores, umas vezes para cima, muitas para baixo, como diria o velho Herodes.

Fernando Proença

 

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