AVARIAS: A questão dos quatro efes

Hoje tinha um ponto de partida magnífico para o meu texto: “Fado, Fátima e Futebol” (não necessariamente por esta ordem). Ou seja,  podia pôr-me a dormir a tarde inteira, sonhando com carneiros, fazendo correr o marfim, que mais cedo ou mais tarde lhes ia apresentar as quinhentas e cinquenta palavras da ordem. Tinha e fi-lo; agora se o que aqui vai é suficiente para vos fazer despertar da letargia em que se encontram, devido ao calor fora de época que andam a rapar, isso já não sei. Por fado posso lembrar-vos a nossa primeira vitória no Eurofestival. No entanto não se ponham aos urros (penso eu de que), porque se a festivança era má quando Portugal andava pela segunda divisão, não passou a bestial com a vitória do Salvador. De um modo geral (em noventa e oito por cento dos casos) as cantigas não são más, são horríveis, e ouvi dizer (porque vi aos bochechos) que todos (à excepção do nosso Sobral) cantavam em inglês. Se calhar este pormenor fez mais pela nossa canção que todo o espírito do Eládio Clímaco que por lá deve ter andado a interpor-se. Falo do espírito em vida, que é muito mais poderoso que depois de morto. Ouvi a canção pela segunda vez (mais tarde) e pareceu-me ter uma boa letra, mas é delambida quanto baste. Sobral no estilo não-mato-nem-uma-formiga-quanto-mais-um-dinossáurio, esteve à altura. Também não se viram raparigas boas (falo de voz) a acompanhar, nem sequer um guarda roupa como os que nos costumam brindar os países de leste, que parece ter saído directamente da Burda, edição de oitenta e oito.
O futebol, pois claro; deveria escrever sobre o Benfica, que é o meu clube dois, mas não me apetece. O um (caso não saibam) é o Olhanense do meu coração (rima e é verdade) que fará um grande campeonato 2017 – 2018. Estre ano desceu por causa do défice excessivo (de pontos).
A grande alegria do ano que vem será o vídeo árbitro. O vídeo árbitro é mais um prego no caixão do futebol como desporto aberto e humano. Os árbitros vão aceitando esta maneira de fazer as coisas e qualquer dia vão aparecer robôs a fazer o seu trabalho: nessa altura vão-se queixar e fazer greve, mas já será tarde. O futebol como desporto está mal e aconselha-se pouco, os jogadores parecem fazer todos o mesmo, e a culpa é dos treinadores que com a maluquice da cultura táctica criaram uma geração de operários (geralmente muito bem pagos) obedientes e sem alma. Nada virá de bom com o vídeo árbitro, porque toda a gente vai desviar a conversa para o tipo de faltas que esse mesmo vídeo árbitro não resolve. No entanto existe uma coisa boa: é talvez a única profissão existente em que os empregados ganham mais que os CEO e dirigentes; haja justiça!
Fátima foi o que todos viram. Não via encher chouriços, tão bem, há anos. No meio de uma excitação que não via desde a eleição de Passos Coelho para presidente do PSD, fiquei a saber – só para lhes dar um mero exemplo – todas as especificações técnicas sobre o helicóptero, não em que viajava o Papa, mas num dos que estava em prevenção: quantas pás tem, que tipo de motor usa, a potência das turboélices, velocidade, altitude a que subia etc. Foi pena que o mesmo rigor científico não fosse usado na questão da cura de uma certa criança brasileira. Quanto ao quarto efe, a minha já proverbial boa educação, impede-me de o nomear.

Fernando Proença

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