AVARIAS: A net e a concentração: subsídios para o seu estudo

Opinião de Fernando Proença

Sempre me espantaram as imagens em que os adeptos de uma qualquer equipa, em que o jogo está a ser televisionado; estão macambúzios (porque estão a perder por dois a zero contra o Benfica) e de repente, percebendo (porque olham o ecrã gigante do estádio) que estão a aparecer na TV, saltam, aos gritos, urros e sorrisos rasgados, da cadeira onde estão sentados. A moral da história parece-me simples: por muito aborrecido que esteja, qualquer espectador (a norma vale para todos os que estão dentro de um estádio em Portugal onde exista um ecrã gigante. A teoria estende-se ao Mundo e arredores), gosta mais da televisão do que do seu clube. Por muito que depois alinhave explicações como “não sei o que me passou pela cabeça”, ou “foi só naquele momento, de seguida voltei à realidade. Nem pensei bem o que me estava a acontecer. Não tenho palavras”. Entre a tristeza de uma derrota e o aparecimento instantâneo frente a um ecrã de TV, os adeptos preferem a TV. Por tudo isso, talvez aquela velha máxima que um homem pode mudar de mulher, de partido mas nunca de clube esteja em desuso. Talvez fique melhor: um homem pode mudar de mulher, de partido, talvez de clube, mas nunca desistirá de ser uma figura pública. Por tudo isso passemos ao parágrafo seguinte.

Quase todos os jornais que conheço têm uma secção de sobe e desce. E como os automóveis amarelos, que podemos gostar ou não, mas não podemos deixar de olhar quando passam na estrada, também o “a subir” e a “descer” me prendem o olhar. Este “prender o olhar” aproxima-me perigosamente dos livros de Pedro Chagas Freitas e Valter Hugo Mãe, tão distantes mas tão próximos entre si. Foi sem querer, prometo que, neste texto, não volta a acontecer. Li no Correio da Manhã (CM), que Guardiola tinha proibido os jogadores do Manchester City de usarem a Internet, dentro da instalação do clube. Para o CM a acção é descrita como, “a descer”, o que mostra bem a ideia que esse (pasquim) jornal faz, das obrigações que os jogadores de futebol devem ter, perante as exigências da profissão. Não sei quais serão as motivações do treinador, mas Guardiola, que será tudo menos parvo, lá terá percebido que hoje, os jogadores estarão mais interessados em saber se o seu novo penteado (ou tatuagem) será do agrado dos fãs, que identificar até que ponto será óptimo ou mau o seu estado de forma: no mínimo, parece pacífico que tudo isso lhes tirará concentração, aproximando-os inexoravelmente (digo eu) da total infantilidade. Mazinho que em tempos não muito distantes, foi jogador da selecção brasileira, declarava há algum tempo na revista “Panenka”, que hoje, os jogadores parecem, quando entram em campo, apenas querer que o jogo acabe depressa. Podem desmanchar o penteado e precisam – digo eu – de estarem na posse dos seus telemóveis. Há muito rede social a quem prestar contas e o contrato que juraram respeitar aproxima-se da total desadequação, em virtude dos dois golos que o jogador em causa, marcou na última semana de campeonato. Logo, existe uma possibilidade bem grande de serem contactados pelo empresário. A verdade é que muito se faz, só desde que os jogadores possam e queiram. Se a carreira o Manchester City, correr mal aqui vai um das razões para o despedimento do treinador: “Guardiola tira aos Jogadores acesso à net no interior das instalações do clube: um desvio à liberdade individual”.

Fernando Proença

 

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