AVARIAS: A diferença está na consciência

Gosto dos programas de Conceição Lino. Dizer que gosto dos programas de Conceição Lino, não significa, necessariamente, que goste de todos os programas ou de todas as ideias de programa de Conceição Lino, mas apenas e só que considero Conceição Lino uma jornalista honesta. Se não o é, peço desde já as minhas humildes desculpas, pelo menos a Conceição Lino. Falo de “E se fosse consigo?” na SIC: existem outros programas deste tipo, noutros canais da concorrência, mas por um acaso que agora não vem ao caso (estou forte em trocadilhos), não vou muito à bola com eles, mais uma certa jornalista que os faz. Por “programas deste tipo” designo produções do habitualmente chamado jornalismo de investigação: há um assunto mais ou menos nebuloso, cheio de arestas para limar, prós e contras verdadeiros, não os da Fátima Campos Ferreira, alguém que sabe do sucedido e pensa estar ali um furo. Vai falar com pessoas, desconfia das respostas dadas pelo estado ou pelas entidades mais ou menos oficiais e, mesmo que anteveja um futuro cheio de fricções, pressões e chatices, continua, até ficar (mais ou menos) satisfeito com as respostas que conseguiu. Não há muito disso na televisão portuguesa, afinal o país é pequeno e todos frequentamos os mesmos restaurantes. Convém pensar-se duas vezes antes de pôr cá para fora a reportagem, não vá a pessoa a quem criticamos agora, poder ser, no futuro o nosso empregador. Mas vai-se andando melhor, não sei se por já andarem fartos de favores ou por pensarem que pondo os contra e a favor nos pratos da balança, pode ser que os considerem melhor, e que isso lhes possa ser benéfico no mundo do moderno jornalismo da pós-verdade. Pois fiquei a saber, depois de aturadas indagações na internet que me custaram vinte e dois segundos, que o programa “E se fosse consigo?” de C. Lino, pretende tentar perceber como reagem os portugueses perante situações limite, invertendo este a lógica dos acontecimentos e construindo propositadamente situações merdosas, só para nos pôr à prova. O fundo que está subjacente à ideia é bom: somos essencialmente egoístas e só quando as coisas nos afectam é que verdadeiramente damos valor aos valores (continuo brilhantemente nos trocadilhos). Para isso, conta o programa de C. Lino, com trabalho específico na área, entrevistas e uma peça em que actores reproduzem situações só para baralhar as nossas certezas, sobre o tema que está a ser discutido. A representação tanto pode ser sobre a violência de homens contra mulheres, mulheres contra mulheres (não vi ainda nada na área mas espero por uns bons puxões de cabelos), homens contra homens (será um must), pais/filhos etc. Habitualmente somos bons nos documentários; são escorreitos e muito visionáveis, mas assim que entram actores, começam logo as ingerências da má fantasia. Falo pelo que vi, em que um rapaz com o triplo da minha massa muscular, apanhava umas lambadas de uma rapariga que era uma fraca figura. As pessoas passavam e pouco diziam, na minha opinião, não porque não se quisessem meter no assunto, mas porque aquilo era tão amador e tão fora da realidade, que pensavam genuinamente que eram para os “apanhados”. E na verdade eram, mas com consciência, como agora se usa.

Fernando Proença

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