AVARIAS

Já passei ponto de não retorno

 

 

Há tempos escrevi mais ou menos o seguinte: não existe forma de sabermos até que ponto o tratamento noticioso de uma notícia atingiu o ponto de não retorno informativo, ou seja, dificilmente se percebe qual a altura a partir da qual começamos a ficar enjoados de tanta notícia sobre os mesmos factos. A impressão de excesso de informação é, forçosamente, individual e não cabe (em parte cabe mas isto sou eu a armar-me) a quem a produz todo o trabalho de a medir. Às vezes tenho a ideia de que existe uma bóia da boa informação, que vai aparecendo à superfície; nessa altura só temos que ter o trabalho de a identificar. Um problema é não vermos a bóia, outro, o não sabermos que ela existe. Para mais quando a recebemos de um número cada vez maior de fontes: internet, televisões e rádio. E porque passamos o tempo a ouvir notícias de informativos cada vez mais longos e sem critério. O tratamento em termos de visibilidade entre um massacre no Texas e um gatinho que se enrola quando ouve uma música dos Queen pode ser igual. Não sei se isso é causa ou consequência do nosso mal-estar. Escrevo isto quando muita gente já clama sobre os assassinatos de Paris: “não passam mais nada nos noticiários”. Sobre isso não sei o que lhes diga, mas penso que não, ainda falta muito por dizer e muitas histórias laterais por descobrir. Se as histórias laterais nos vão desviar do essencial não sei, com o tempo talvez o façam, mas por outro lado é importante – digo eu – que a vida das pessoas venha ao de cima, que não seja só morreram cem ou cento e cinquenta. Que nós todos percebamos (neste caso) que quem lá estava no restaurante ou numa sala de espectáculos só queria divertir-se. É isso o principal. Ninguém estava a fazer caricaturas do profeta nem manifestações contra o califado, no entanto foram mortos. Muitos antes de mim, referiram este pormenor: se com o Charlie Hebdo, se encontraram bodes expiatórios (“são maldosos”; “não deviam desafiar outras religiões, nem civilizações” etc) onde estão eles agora, os que os acusaram? Agora teremos que deixar de sair à noite?, de beber copos com os amigos? (ou sozinhos, tanto lhes faz), termos que desistir de ouvir música em público? Não se iludam os ocidentais que já preparam a defesa ou a simples compreensão dos atentados. Infelizmente ainda terei que ler: “quem leva uma vida de licenciosidade e hedonismo (os que saem à noite, comentário meu) , ou quem desafia outras religiões e civilizações (a malta da caricatura, comentário meu), embora não merecendo a sua má sorte, muito fizeram pelos atentados de Paris”. Muitos vão ainda morrer, porque a seguir virão os atentados a quem faz pesca desportiva, a quem frequenta jardins públicos etc. O ódio e a necessidade de matar que aquela má gente tem, não encontra limites. Lembro-me de ter lido nos textos que evocam a tirania de Estaline, que muitas eram os próprios condenados que escreviam cartas ao ditador, pedindo a sua intervenção, pensando que alguém se tinha equivocado na sua condenação e que só o líder supremo, que grande parte deles admirava e idolatrava. os podia tirar dali. A sua fé messiânica na bondade do tirano tornava-os imunes sequer à dúvida. Como era possível que um homem daquela estatura moral, cobrisse a sua detenção num Gulag? Ele tinha que saber para se fazer justiça. Era o fazes!! Parecem os ocidentais que afirmam estar a culpa dos terrorismo islâmico do lado de cá. Tolos e perigosos.

Fernando Proença

 

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