AVARIAS

Luís Quinze?

Toma lá um móvel do IKEA

 

 

 

Costumo fazer piadas em privado com o “Querido Mudei a Casa” (TVI, manhãs de Domingo). É o programa típico de canal generalista, carregadinho de publicidade e que a certa altura da sua produção faz entrar uma daquelas celebridades de meia tigela que o é porque sim a fim de fazer não sei o quê e contar que a sua vida vai sobre as rodas do êxito. Toda a gente já espreitou pelo menos uma vez aquele comboio de rodapés e papel de parede pós-moderno (alguns bastante bonitos). Um filho pensa que os pais podiam viver numa casa um bocadinho mais convidativa, contacta com a equipa e aqui vão eles, empancar os tarecos da sala para a casa da vizinha, enquanto se esforçam para dar a tudo aquilo um aspecto um bocado melhor. Não percebendo eu bem como, os pais, legítimos proprietários do imóvel são deslocados em comissão de serviço para o apartamento duns primos enquanto se faz o trabalho. Certo é que chegam a casa e fazem uma cara de espanto como se lhes tivesse saído a sorte grande e nunca tivessem dado pela marosca. Há bons actores em potência ao passar da esquina. Entretanto a equipa faz o trabalho, não sem antes se queixar da enorme tarefa com que vão ter que se confrontar (“estes azulejos custam muito a tirar” ou, “o soalho levanta muitos problemas para se envernizar como deve ser”), choradinho que como todos sabemos é muito português. O resultado final é geralmente promissor: de um modo geral as salas, cozinhas e jardins em questão apresentam muito melhor ar e para quem gosta de bricolage (que não eu), há muitas – como se diz agora – dicas. Ou seja, gozo com o programa mas há coisas piores, como por exemplo os meus textos. Agora do ponto de vista sociológico há muito a explorar ali. Por exemplo ver como nos aparecem as casas decoradas pela outrora existente classe média, umas vezes um grau acima, outras um pouco abaixo. São exemplos de um mau gosto atroz. Eu sei que o gosto é um conceito eminentemente burguês, mas é com ele (ou falta dele) que vivemos. São cadeiras, mesas, estantes, sofás a imitar o suposto estilo do século dezassete / dezoito /dezanove ou coisa assim. Tudo muito escuro e pesado e o mais rococó possível. Outro dia vi uma fotografia da que eu presumo ser a casa de um reputado comentador de futebol da nossa praça que usa óculos que habitualmente acompanham fatos, gravatas e camisas, tudo caro e assaz irrepreensível. Era uma sessão feita para ilustrar a entrevista concedida pela figura pública em causa, rapaz ainda novo, garboso e (se me é concedido o português, licencioso), cioso dos seus conhecimentos e influência. Uma daquelas entrevistas em que o génio por um momento desce à Terra só para nos dar a alegria da sua existência. A casa – enorme – parecia uma sala do palácio de Versailles. Eles eram os candelabros, as cadeiras os tapetes, os cortinados. Tudo parecia saído da França pré-revolução. Como a dizer: existia o rei sol, mas eu sou o comentador sol! A equipa “Querida Mudei a Casa” sairia de lá à pedrada, desculpem, a tiro de mosquete que é mais apropriado. Mas que tinham muito que fazer, tinham!

Fernando Proença

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Eh, pah (desculpa lá o tuteado), oh Proença, mas então o que é que se passou aí por Olhão que eu não dei por isso. Foi algum sueste que entrou pela casa adentro, pior que o efeito da legionela de Vila Franca… foi?
    Por acaso eu até gosto bastante do mobiliário rócócó e do de barrancos, e coiso e tal e mais não sei o quê. Cá em casa é mais o estilo negligé, tás a ver? Uma cadeira de palha ao lado de um banco de cozinha estilo estado-novo embora semi-usado, porque assim já está feito ao formato do dito cujo do dono. A mesa é do tempo da mariquinhas com tabuínhas para os pratos zincados não escorregarem, porque estes é que são bons, sai o zincado mas nunca se partem. Os copos são de alumínio, porque são os que se lavam melhor e conservam o tintol fresco durante mais tempo. O fogão é de um bico para não gastar demasiado gás. Tás a ver? É sempre a economizar. E de tal forma assim acontece, que minha Maria está a ir viver uma semana com a mãe dela, e outra cá em casa para limpar tudo como deve ser, e assim despedimos a ócraniana que vinha para aqui a dias, e agora passou a ser sem dias nem horas, porque a crise toca-a-todos.
    Portanto (e esta malvada já está a tremer, o que me deixa bastante nervoso) vou ter que terminar, sem no entanto deixar uma palavra de confiança no futuro, desejando que isto de mal, não vá a pior.
    Carpe diem

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