AVARIAS

Tenho a cabeça maluca

O excesso de informação faz-me isto: quando estou um dia sem ver uma muito pequena parte de um noticiário (só costumo ver uma pequena), pareço que não sou deste Mundo. Agora em que os telejornais mostram as primeiras páginas dos jornais, então nada escapa. Estamos embolados em notícias. Levanto-me e logo de manhã vejo mais do que a dose de notícias a que devia ter direito. Globalmente vejo mais primeiras páginas, obras do governo, facadas, homicídios e imagens ternas de cabrinhas a jogar à macaca, altura em que José Rodrigues dos Santos pisca o olho. Tudo como antigamente havia, em doses muito limitadas (e censuradas). Lembro-me de Américo Tomaz dizer que aquela terra onde inaugurava um bebedouro, era a “mais bela de Portugal”. Na semana seguinte outra seria a mais bela e assim sucessivamente. Agora, o foguetório é tão grande que, vendo televisão e notícias na net, temos um dia em cheio, se o nosso ideal de felicidade for um noticiário de hora e meia com Marcelo Rebelo de Sousa a rematar a faena. Certo é que feitas as contas e se por um qualquer feliz acaso, passar doze horas (na praia, fazendo nada, só a olhar o ar. Para lhes dar um exemplo pedagógico) sem consultar o oráculo da SIC Notícias, até parece que cheguei na última nave espacial da noite, vindo de Marte, mas em versão descansada. Partindo do princípio que esta confusão de notícias e mais notícias, nos transmite cargas de stress dignas de um corretor da bolsa de Nova Iorque (sem a sua remuneração), posso preguntar, por que porra é que os russos vieram segunda vez ao nosso espaço aéreo em visita de cortesia? Pareceu-me ter ouvido que um dia depois dos bombardeiros terem passado cem milhas ao largo de Peniche terão voltado um dia depois? Para quê? Será que Putin quer organizar uma prova de surf no Mar Negro e veio cá espiar-nos? Ou estará mancomunado com os oficiais do nosso exército, que se babam cada vez que há um frisson destes, para pedir mais dinheiro para os seus salários o orçamento da Defesa. Agora se não é por uma destas razões válidas o que faz existir um céu tão grande e os russos só embicam para cá? (e já agora também para a Suécia). Estarão a ver bem as coisas? Deixem-nos lá em paz. O Izmailov não jogava é certo, mas algum mal devia de ter. Nem tudo foi embirração.

Outra coisa que nos sucede muito é recebermos toneladas de prémios dados através de votações na internet. O Porto é melhor destino de turismo para o Facebook dos residentes nas Ilhas Caimão?, embandeiramos em arco. Uma revista faz um teste ao nosso civismo: deixa dez carteiras com dinheiro e espera para ver se o devolvem. Lisboa descobre que nisso é a pior capital europeia, de todas as testadas. Nessa altura dizemos que o prémio é uma fraude. Ou seja, só interessam os prémios que interessam.

O Banqueiro (com Bê grande) português Horta Osório prepara-se para despedir mais nove mil trabalhadores do Lloyds Bank e com isso subir os lucros do banco. Certo que nessa altura dará entrevistas para as televisões portuguesas, sempre a perorar sobre a falta de produtividade do trabalhador tuga. Chegado cá, alguma universidade de referência na mediocridade poderá habilitá-lo a receber um doutoramento Honnoris Causa, pelo grande trabalho de recuperação do banco. Não sei porquê mas ouvir o homem situa-me ao nível de comer um iogurte estragado: dá-me vómitos.

Fernando Proença

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2 COMENTÁRIOS

  1. Pegando na “deixa” do Fernando Proença, quero evidenciar que já proibi há algum tempo ao J.Rodrigues dos Santos (JRS) que me piscasse o olho. Mas ele tem dias, e então para me contrariar, nem todos os dias pisca-me o dito da mesma maneira quando se despede. Depende das notícias que ele expende. Sendo ele a voz do dono (uma das muitas), e se, por exemplo o conteúdo da última notícia tiver a ver com a aprovação da sinalética na cidade de Lisboa sob o novo Acordo Ortográfico de 1990, ele (JRS) todo satisfeito, pisca-me o olho. Se fôr uma notícia a enunciar que o Cavaco condecorou o Barroso com a mais alta distinção do país… ele pisca-me o dito, todo satisfeitinho com a atitude do Silva. Se for um àparte de uma colega sua a dizer que na segunda parte do Telejornal irão falar do lançamento de um novo título de um autor português consagrado (a fingir que não é nada com ele), o manganão a armar aos cucos, catrapisca-me os dois olhos, enquanto fofura da sua avozinha, a receber dela uma festinha no cocuruto cada vez mais destapado. Mas se a notícia que fecha o Telejornal disser respeito ao seu arqui-inimigo Sócrates, aí o JRS coloca um ar-de-pau distante, de olhar para o lado e assobiar para cima, como se a notícia nada tivesse a ver com ele.
    Ora, por todas estas razões agora expostas, eu proponho que se promova um referendum a nível nacional àcerca do institucional e consagrado “sorriso pisca-pisca o olho” do JRS, no intuito de o mesmo “tique” passar a ser adoptado por ele, ou não, quando os ministros vão falar à televisão. Esta possível adopção do catrapiscar do olho ou não, segundo as conveniências do manganão, da autoria do JRS, já considerada uma instituição nacional, passaria a ser uma atitude obrigatória para nos informar de que, quando ele entrevistasse um ministro, ele piscaria o olho esquerdo ou direito, como que a dizer-nos, ponham-se a pau que não é ele (o ministro) que vai falar, mas sim a ressonância do eco de um sistema que ele representa para esmagar a nossa parolice de pacóvios. E assim tudo ficaria no melhor dos mundos com o piscar “porreiraço” do JRS, que poderia passar a ser uma coisa boa para nós parolos obrigados a engrupir os barretes que eles nos querem impingir todos os dias.
    Portanto, enquanto não fôr atribuída uma valoração do tique dele, volto a frizar de que o JRS está determinantemente proibido de piscar-me o olho.

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