AVARIAS

Dois oásis

Estou em espera para o jogo França – Portugal. Não costumo ver jogos a feijões mas daqui por um bocado talvez abra uma excepção. Talvez, talvez, não, abro mesmo porque neste preciso momento estou sentado ouvir a parte final do hino francês.

O ponto final anterior é parágrafo porque marca o intervalo prematuro do texto. A partir daqui passaram noventa minutos, mais três que o árbitro deu e acabou a partida. Perdemos o que nos tempos que correm não é, infelizmente, novidade. Apesar de Portugal ter conseguido mais uma vitória moral, nem tudo foi mau. No meu achó-metro a exibição aparece no nível mais ou menos. E tirando os primeiros vinte minutos, que foram tão maus como os piores de qualquer dos nossos anteriores treinadores, até que não estiveram mal de todo. Gosto de Fernando Santos. Parece-me que é um dos poucos treinadores portugueses, de primeiro plano, que não apresenta um ego, tão inchado, tão inchado, incapaz de ca-ber nas maiores portas que possam imaginar. Quando Paulo Bento entrou para a selecção dei-lhe o benefício da dúvida, pensei que tinha amadurecido com a idade (ou opor outra razão qualquer). Afinal seria praticamente impossível alguém pôr a equipa a jogar pior do que com o espoliado mau, quero dizer do banco mau, Carlos Queiróz. Mas enganei-me; Paulo Bento parece ter gerido a selecção, como se de uma equipa de sub-14 se tratasse, impondo correctivos a quem pusesse o pé em ramo verde. Além disso afastou-se da especificidade do jogador português. Com ele, nada distinguia a nossa forma de jogar da – por exemplo – selecção alemã. E devia distinguir. Não somos iguais a eles em peso, envergadura, etc. A nossa falta de argumentos físicos devia fazer pensar os treinadores, como tinha feito Pedroto no FêCêPê. Ou seja, Paulo Bento nunca foi um verdadeiro treinador. Apenas adaptou os jogadores que tinha, à sua ideia de jogo. Penso que Fernando Santos pode devolver algum senso comum ao universo da nossa equipa. Os meus quatro leitores dirão, e nós com isso? Estão cheios de razão.

Outro espaço de relativa calma – na programação dos canais generalistas – é o Jornal 2 na RTP2. É certo que não escapa às notícias piedosas postas a circular pelos políticos, geralmente inventadas para desculpar a sua proverbial incompetência, mas poupa-nos aos fait divers que só nos ajudam a infantilizar e imbecilizar mais um pouco. Não sei completamente porquê, mas ao ver o Jornal 2, respiro, o que não consigo fazer com os outros espaços de notícias. Além do mais não tem políticos armados em comentadores, naquele jeito de quem explica o Mundo às crianças. Outro dia vi e ouvi falar António Pelarigo, fadista de toda uma vida que aos 61 anos gravou um disco a sério. Pareceu-me estar a ouvir João Ferreira Rosa, como notou Miguel Esteves Cardoso no Público. Para mais descansou-me e comoveu-me, com um discurso simples e despretensioso. Os trabalhadores da “cultura” têm também uma língua de pau. Aqui não “levantam a cabeça” nem “dão a volta por cima” como os futebolistas, mas têm ao invés, “projectos” e estão invariavelmente “preocupados como o seu público”, numa “cultura que está a morrer” e anseia por “subsídios do Estado”. Pelarigo felizmente não é desses. Estou ansioso por ouvir o disco.

Fernando Proença

 

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2 COMENTÁRIOS

  1. Bom… estive sem poder aceder ao mundo virtual, por via de maldades do Babylon e quejandos, mas prontes… aqui estou eu o Boavista.
    Então lá vai: conheci o Fernando Santos numa leitariazeca (tipo túnel) com duas ou três mesas ali para os lados da Penha de França. Isto foi anos anos oitenta quando a carreira de futebolista já tinha acabado. O Fernando vem de uma escola de Lisboa dos bons malandros que o nosso amigo Mário Zambujal (e disso mesmo lhe dei uma noite conhecimento ao Mário, quando veio dar uma conferência na Biblioteca de Olhão, provocando-o que quem teria gostado de escrever aquele livro teria sido eu, e provoquei-o para que continuasse. Na altura disse-me que não, mas depois voltaria à senda e publicou mais dois títulos que tão bem retrata o microcosmo da classe média do desenrascanço da cidade de Lisboa), mas estávamos a falar do Fernando Santos, vejam bem as voltas que a vida dá.
    Para eu falar do Fernando Santos o espaço é demasiado curto, pelo picaresco da sua vida, nomeadamente quando ele jogava no Estoril-Praia e era o treinador, o bom gigante (magriço) José Torres(RIP). As histórias do Fernando Santos, contadas entre uma puchada da pirisca e uma cuspidela, daria um livro de contos.
    O Fernando Santos percebe muito de bola, e acho que vai ter sucesso porque gera empatia com os jogadores e com toda a equipa técnica.
    Carpe diem

    • Quando escrevi este comentário, estava algo desestabilizado, tolhido pela falta de tempo, mas não queria deixar de escrevê-lo, porque sabia de antemão, que somente depois de cumpridos mais de 1000kms (ir e vir a Coimbra) da minha caminhada para Damasco voltaria ao tema.
      E aqui estou de novo, apenas para dizer que o livro do Mário Zambujal se intitula “Crónica dos Bons Malandros” e, está disponível (para leitura) na net em formato “pdf”. Hoje em dia é já uma crónica irónica de costumes, mas que ainda sorrimos perante as suas aventuras apimentadas de humor respeitante ao mundo lumpen da Lisboa de então, na sua passagem de uma cidade semi-urbana (dos bairros) à tecnocrática de hoje.
      Aproveiem e boas leituras.
      Carpe diem

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