AVARIAS

Reconfortante

De quando em vez (sei que devia escrever “de vez em quando” mas não me apeteceu), também me deixo levar por outros interesses, que não apenas sol e praia, porque sendo um algarvio dos sete encostados (como poderia dizer Jorge Jesus), também sei que há vida para além de Marte. E um desses interesses pode ser por exemplo o automóvel, pequena atenção perfeitamente amadora, sem consequência nem proveito. Conduzo um automóvel com mais de dez anos e quando vejo uma transmissão de automobilismo só me interessam os acidentes. A forma que tenho de reconhecer quando se pode ser apenas curioso por qualquer coisa é ter uma teoria sobre isso: os que como eu, não sabem quem comanda o mundial de fórmula 1 nem conseguem achar piada às não sei quantas milhas de Indianápolis, mas que podem olhar uma segunda vez para a TV, quando numa saída em S. Marino batem dez carros então – não –são – conhecedores – nem – amantes – de – automóveis. Por exemplo, como se sabe que determinada pessoa não gosta de futebol embora não o reconheça?, quando diz que, de futebol só vê os jogos da nossa selecção. Os automóveis são figurantes de primeira liga em qualquer canal, são uma parte substancial da publicidade e, sobre eles fazem-se inúmeros programas de testes e opinião, em que os motores são sempre chamados propulsores. Propulsores que debitam 130 cavalos, para sermos mais precisos. Esses momentos ajudam a perceber a evolução que os automóveis vão fazendo ao longo da sua vida. E existem sempre constantes nessa vida. Um delas é que em qualquer marca o seu modelo mais pequeno tem tendência a crescer. As pessoas que o usam e os que só o olham, adaptam sempre as suas necessidades não ao que o carro é mas ao que gostavam que fosse. E toda a gente quer sempre mais espaço para pôr as pernas. Este (carro) ao crescer vai deixar então espaço para um outro modelo mais pequeno. Este crescerá entretanto e assim sucessivamente.

As séries de televisão têem também uma constante; quanto mais avançam as temporadas mais complexas se tornam. A história do automóvel pequeno e depois não tão pequeno como isso, é aqui reproduzida por uma progressivamente maior intelectualização dos conteúdos. Como se não bastasse o crime quando a série é sobre polícias e ladrões, aparecem os problemas psicológicos. Um tio do polícia que tem a menos das recomendáveis das ocupações, como por exemplo banqueiro. Ou o próprio pai, preso durante vinte anos numa qualquer penitenciária do estado do Arizona. Ou a própria heroína que tem visões de quando era nova e maltratada no jardim de infância, por um assassino em série que se disfarçava de palhaço. A série Hawai: Força Especial que passa em vários canais (TVI, FOX), sofre apenas moderadamente destes problemas de crescimento e envelhecimento. Com o tempo tornou-se um bocadinho mais complexa, mas só um bocadinho, de modo a poder ser vista em qualquer altura do filme sem ficarmos com a ideia de que não percebemos nada do que se passa dali para a frente e passou para trás. O aspecto geral é de uns episódios fraquinhos, pontuados por lugares comuns e perseguições automóveis, mas que podem ser vistos sem que sintamos que nos estão a ofender a inteligência. No geral são reconfortantes. Não nos exigem muito mas dão-nos uma boa dose de aventuras. Para uma série de um canal generalista até que não está mal.

Fernando Proença

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Bem…ao Proença deu-lhe para a nostalgia, então vamos lá ver. De corridas de automóveis, eu ia às do Monsanto, ou Monteclaros que ia dar ao mesmo aonde vi o Juan Manuel Fângio, Stirling Moss e demais compinchas, para além do Manuel Lopes Gião nos Cooper S. Depois, anos mais tarde começaram as corridas na pista de aviação da Granja do Marquês em Sintra, aonde acompanhei como amigo o pai do Lamy Viçoso, que corria com o seu Ford Cortina -Lotus, que nunca terminava prova nenhuma, partia sempre (gripava). A seguir veio o Autódromo do Estoril onde uma vez houve corridas de Fórmula 1, e a barulheira era tão ensurdecedora que nunca mais lá voltei a pôr os pés. Anos mais tarde (1984?) eu e mais outros piores que eu, fomos ao Rally de Monte Carlo, no Mónaco, e aí dei por terminada a minha época de corridas de automóveis para o resto da vida. Chegou. Quéser, chegou, mas de permeio ficaram os cavalos.
    De carros, conservo um Austin Sprite Healey, Mk IV, motor 1265cc, o mesmo dos Cooper S, do ano de 1967, que por aqui está a servir de hotel à rataria. O outro, um palheirão que bebe15/16 aos 100, com mais de um milhão de quilómetros e com 21 anos de idade anda a caminho de Coimbra até ao Largo da Porta Férrea: a ir e a vir a GPL que é um consolo. Fiz um contrato com o mecânico; ele vai arranjando o carro a preços módicos e um dia que eu vá para Buenos Aires (estão a ver?), o carro será dele. Há-de valer algum, nem que seja de colecção. Isto são as carroças. Das duas rodas, desde as trotinetes de rodas de esferas quando comecei a partir os queixos quando o “aguiador” se desenganchava; passando pelas bicicletas de corridas, mais as motorizadas V5, Honda 50 (com um acidente que ia indo desta para melhor, e não me tinha importado nada, porque a diferença entre estar vivo e estar morto, é nenhuma, e disso posso eu falar de mim); então a seguir veio uma Harley Davidson 125 cc. (chamadas as Harley verde), depois Norton 2.5, Honda Transalp e Honda Pan European; conservo a Transalp, que este ano nem vontade tive para a pôr a trabalhar. Mas a Transalp, das primeiras que vieram para Portugal (1991) é uma mota fantástica, versátil. Só que a vontade vai faltando, porque de motard nunca tive muito. Motard sim, mas no hall de um bom hotel, e tenda numa boa suite de um bom terraço com vista entre a piscina, com uma boa chaise long, banho turco e o mar ali ao perto para os outros, porque as areias andam cheias de fungos. Ah…o quê? Pois, nada mal, pois não? Também tive um fora-de-borda de 70 hp, que era o Travessias; fazia do Clube Naval de Cascais ida e volta até à Torre do Bugio, que tinha uma bela praia. Uma confidência (não há problema porque ele, o Xavier, apenas lê e de quando em vez os jornais que eu lhe mando), dizia eu, há dias fomos dar uma volta na sua embarcação pelo mar interior de Olhão até à Armona, e chegou de barco para mim. Ainda que o melhor barco seja o dos amigos, para mim, o melhor mar, é o mar que há em casa. O resto andem vocês no mar.
    E para a semana, se a disposição, e as historias do Proença ajudarem, há mais. E de televisão, deixo-a toda para vocês. Estupidifiquem-se à vontade. Ahahaha
    Carpe diem

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