ANDREIA FIDALGO*

Luísa Travassos
Luísa Travassos
Diretora do Jornal do Algarve Carteira Profissional - 588 A

No Museu Marítimo Ramalho Ortigão,
Os Descobrimentos Portugueses

Os Descobrimentos Portugueses – é este o título da exposição que estará patente ao público até 30 de Setembro no Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, em Faro, e que integra o projecto de âmbito regional “Algarve – Do Reino à Região”, coordenado pela Rede de Museus do Algarve.
São três os principais elementos que encontramos nesta pequena mostra: modelos de navios em escala reduzida, reproduções cartográficas e instrumentos de navegação astronómica. Pretende–se ilustrar, desta forma, os principais desenvolvimentos técnicos e tecnológicos que permitiram os Descobrimentos Marítimos.
Quando os portugueses iniciaram a exploração marítima, no século XV, cedo se aperceberam que as embarcações então utilizadas não se adequavam às correntes e ventos de um mar ainda desconhecido. A barca foi o primeiro tipo de embarcação utilizado nas expedições lusas e foi com uma barca que Gil Eanes dobrou o cabo Bojador em 1434. O conhecimento empírico do Atlântico tornou imprescindível um novo tipo de embarcação, o que resultou, a partir de meados do século XV, no aparecimento da caravela latina, que se adaptava com maior facilidade a mares de ventos inconstantes e utilizada até princípios do século XVIII. No final do século XV, a caravela latina foi adaptada numa nova tipologia, a caravela redonda, por sua vez utilizada até mea- dos do século XVII. Nesta pequena mostra estão precisamente expostos, entre outros, modelos destas embarcações características dos Descobrimentos Portugueses, assim como um modelo da Nau São Gabriel, a qual integrava a frota de Vasco da Gama na sua primeira expedição à Índia (1497-1499).
Com os Descobrimentos, mitos, lendas e medos ancestrais foram ultrapassados, bem como os velhos limites geográficos. A cartografia – estudo e elaboração de mapas – passou então a ser essencial, pois possibilitava a construção de uma nova realidade geográfica que permitia conectar os vários pontos do globo já conhecidos. Nesta exposição, a cartografia está exemplificada em reproduções do Atlas de Diogo Homem, cartógrafo portu-               guês que elaborou a sua obra em meados de Quinhentos.
Essencial também para as expedições náuticas foi o desenvolvimento de instrumentos de navegação astronómica, tais como o quadrante ou o astrolábio náutico, ambos utilizados para calcular a latitude através da observação e medição da altura dos astros, e ambos expostos, juntamente com outros instrumentos auxiliares à navegação, na pequena exposição em análise. Assim, a aliar à evolução das embarcações e da cartografia, também os instrumentos de navegação náutica contribuíram para que as expedições portuguesas chegassem a bom porto.
Sendo a exposição dedicada aos Descobrimentos Portugueses e integrando-se no grande tema geral “Algarve – Do Reino à Região”, é importante salientar que ela falha na referência à intensa relação deste importante período histórico com a região algarvia. Bastaria para tal relembrar que Lagos foi, no século XV, o principal ponto de apoio às expedições dirigidas pelo Infante D. Hen-rique; ou que Tavira, na primeira metade do século XVI, tinha o principal porto de ligação com as praças portuguesas no Norte de África; ou ainda que a região algarvia, votada ao esquecimento desde a anexação definitiva ao Reino de Portugal no século XIII, prosperou, devido à sua posição geográfica, nesta época dos Descobrimentos, para voltar a ficar esquecida durante todo o século XVII e até à década de setenta do século XVIII, altura em que o Marquês de Pombal lhe dedicou, enfim, um projecto de “restauração”.
Não podemos, por isso, considerar esta pequena mostra, que ocupa um espaço exíguo do Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, como uma das mais representativas da iniciativa “Algarve – Do Reino à Região”; não deixa de ter o seu interesse, ao exem-plificar as principais inovações técnicas e tecnológicas dos Descobrimentos, no entanto, não traz nenhuma luz à história da região algarvia durante esse período e os cartazes descritivos que apresenta oferecem pouca informação relevante.
Mas importa, em contrapartida, referir ainda que o Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão é composto por três salas de exposição permanente – sala Baldaque da Silva, sala Lyster Franco e sala Manuel Bívar -, nas quais o visitante pode apreciar uma interessante colecção de utensílios de pesca e de modelos de redes, aparelhos e barcos de pesca, fazendo uma viagem pelas actividades marítimo-piscatórias, tão características da região algarvia.
*CEPHA/UAlg

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