Algarve resgata lengalengas e trava-línguas

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O objetivo do festival é divulgar os saberes e tradições, contribuindo para a sua sobrevivência, ao mesmo tempo que é encorajado o diálogo entre as diferentes gerações

A tradição oral da região vai estar em destaque na segunda edição do FOrA – Festival da Oralidade do Algarve. Entre 30 de junho e 4 de julho, os cantares, as lendas, as lengalengas e trava-línguas, as histórias, os saberes e os fazeres tradicionais vão animar vários espaços da cidade de Portimão e da vila de Alvor

 

“A poldra papa a parra, mas a parra não papa a poldra. Como a poldra papa a parra, porque não papa a parra a poldra?”

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Os trava-línguas e as lengalengas têm origem na sabedoria popular, traduzem conhecimentos e crenças e representam uma forma de resgate e lembrança de uma cultura. Entre 30 de junho e 4 de julho, o FOrA – Festival da Oralidade do Algarve, vai animar o centro da cidade de Portimão e da vila de Alvor, com várias iniciativas que dão voz e corpo a esses saberes e tradições da região.

Este evento é uma espécie de mostra da tradição oral da região, com performances, oficinas, concertos, bailes, debates, palestras e muito mais. Durante cinco dias intensos, marcarão presença os provérbios, as adivinhas, as lengalengas e trava-línguas, as lendas e histórias, as danças e cantares tradicionais, entre outras expressões da oralidade regional, com o objetivo de divulgar esses saberes e tradições, contribuindo para a sua sobrevivência, ao mesmo tempo que é encorajado o diálogo entre as diferentes gerações.

A organização do festival, que está a cargo das associações Teia D’Impulsos e Alvorecer, em parceria com o Museu de Portimão e a Associação de Pesquisa e Estudo da Oralidade (APEOralidade), adianta que o objetivo do FOrA é “divulgar essas tradições e encorajar o diálogo inter-geracional”.

“Afinal, o que de mais genuíno há na vida de uma comunidade dificilmente cabe nas estantes de uma biblioteca. Escapa à expressão escrita e circula de boca em boca, muda, deturpa-se, acrescenta um ponto (ou mais) ao conto, ganha nuances ditadas pelo tempo e pelo espaço. E desvanece ao ritmo da vida humana”, realçam os promotores, frisando que “o património oral é, enfim, uma realidade dinâmica e, por isso mesmo, em constante risco de ocaso”.

Os dizeres e falares dos nossos avós

Ainda de acordo com a organização, este património oral “apenas sobrevive se comunicado e memorizado pelas gerações seguintes, tornando-se num fio condutor da história de um povo”.

Desta forma, “o FOrA pretende dar um contributo para a valorização e preservação do património oral do Algarve”, acentuam os responsáveis, que prepararam diversas iniciativas para estes cinco dias.

Os eventos que integram a programação do festival são de entrada gratuita e destinados a várias faixas etárias.

O festival abre na noite de 30 de junho, com a exibição do filme Floripes de Miguel Gonçalves Mendes no Teatro Municipal de Portimão, seguido de uma conversa em torno da produção do filme e do seu impacto na valorização das lendas da moura encantada de Olhão.

No dia 1 de julho, o FOrA ruma ao Museu de Portimão para uma visita guiada pela voz dos antigos operários da fábrica Feu e dos homens do mar.

A noite de 2 de julho será em Alvor, numa mostra da rica tradição oral desta vila piscatória com a Oficina das Mezinhas e com a Desfolhada.

Já na sexta-feira à tarde, dia 3 de julho, os mais jovens serão convidados a conhecer um pouco mais sobre os dizeres e falares dos seus avós e, depois, hora de brincadeira com jogos tradicionais, como eram noutros tempos.

O festival continua pelo fim da tarde e noite de sexta-feira e sábado, na zona da antiga lota de Portimão, com mesas redondas, artes e ofícios, várias performances e muita música. Como não podia deixar de ser, as noites de sexta-feira e sábado serão animadas pelos bailes.

Associação centra atividade na literatura oral

O património oral algarvio tem sido o centro da atividade da Associação de Pesquisa e Estudo da Oralidade (APEOralidade), que teve origem em Paderne (e sede em Albufeira), em 2002.

Desde então, esta associação tem promovido a investigação e publicação bibliográfica e fonográfica da literatura oral popular tradicional: provérbios, linquintinas (lengalengas e trava-línguas), adivinhas, quadras, despiques, cantigas de baile de roda, contos, romances, etc.).

“A APEOralidade aparece na sequência de uma larga ação de pesquisa, inicialmente centrada em dois microcampos – Paderne e Boliqueime – e levada a efeito por uma equipa de professores”, revelam os responsáveis.

Promover a sensibilização e a divulgação do património oral com intervenção lúdica, recreativa, pedagógica, cultural, junto das instituições e da comunidade local, regional, nacional, são os grandes objetivos da associação, que integra o grupo de cantares populares tradicionais “Moças Nagragadas”, que “tornam visível e audível o outro lado do texto fixado pelo investigador, ao mesmo tempo que são dadoras do saber comunitário das nossas raízes culturais”.

No final de 2014, a APEOralidade apresentou na biblioteca de Albufeira um livro sobre lengalengas e trava-línguas de Paderne.

“Estão Vivas as Linquintinas Tradicionais em Portugal – Palavra, prazer e jogo na boca do povo” é o título da obra, que tem 224 páginas e oferece mais de 1100 lengalengas e trava-línguas recolhidos em Paderne, a que se acrescentam, em visão contrastiva, enunciados de outras comunidades. José Ruivinho Brazão, presidente da direção da APEOralidade, foi o responsável pela recolha dos textos.

Nuno Couto/JA

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