2035. O ano em que o desemprego regressa aos níveis pré-crise

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De acordo com o FMI, liderado por Christine Lagarde, a taxa de desemprego manter-se-á em Portugal acima dos 10% até 2020, pelo menos

Serão necessárias duas décadas para que Portugal consiga reduzir a taxa de desemprego para os níveis pré-crise, no caso de não serem tomadas medidas para estimular o crescimento económico. O aviso foi feito esta segunda-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), no relatório anual que costuma publicar sobre a zona euro. Chegar a uma taxa de desemprego abaixo dos 7% num futuro mais próximo não se coaduna com as perspetivas de retoma demasiado modestas que estão traçadas até 2019. Só em 2035 podemos almejar chegar a tal meta, diz o FMI.

Igual aviso é feito a Itália que, segundo o relatório, precisará do mesmo tempo para recuperar os níveis da taxa de desemprego. Já Espanha precisará de menos tempo: cerca de oito anos. França pode ser ainda mais otimista: em três anos poderá reduzir o desemprego para os níveis registados entre o período 2001-2007. O relatório do FMI refere-se à taxa natural de desemprego, a NAIRU (Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment), um conceito que aponta para o equilíbrio entre o pleno emprego e a ausência de inflação.

Olhando para os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a realidade dos números é mais ilustrativa. Segundo a estimativa provisória para maio de 2015, a taxa de desemprego em Portugal ronda os 13,2%. No primeiro trimestre de 2013, bateu o recorde máximo: tocou nos 17,7%. No mesmo período de 2007, a taxa fixou-se nos 8,4%.

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De acordo com o FMI, liderado por Christine Lagarde, a taxa de desemprego manter-se-á acima dos 10% até 2020, pelo menos. Apesar dos sinais de crescimento económico, estes são ainda muito ténues e não levarão a uma redução significativa do desemprego.

A preocupação do FMI está plasmada num dos capítulos do artigo IV do FMI sobre a zona euro, publicado esta segunda-feira, que destaca os “problemas graves” que tendem a persistir nos países que adotaram a moeda única: “Porque as perspetivas de crescimento são moderadas e o espaço político limitado, a área do euro é vulnerável a choques negativos e a baixo crescimento prolongado, com as repercussões negativas que isso traz”, explica o documento.

No que diz respeito a Portugal, o organismo reconhece que o país continua a ser pouco competitivo, apesar de alguns de alguns dos avanços registados durante os anos de intervenção da troika. No entanto, houve reformas que nunca chegaram a avançar e outras que ficaram a meio do caminho.Por isso, o FMI indica como plano terapêutico para Portugal, no sentido de baixar a taxa de desemprego, “aliviar os impedimentos à competitividade externa e ao crescimento” e a aposta na continuidade “da melhoria do funcionamento do mercado de trabalho e do mercado de produto.

Tom pessimista alargado à zona euro

Numa visão mais geral sobre a zona euro (19 países), o FMI mantém o tom pessimista, sobretudo no que diz respeito aos indicadores do desemprego jovem e do desemprego de longa duração: “O desemprego continua a ser elevado nomeadamente no que diz respeito aos jovens e desempregados de longa duração”, diz o documento. Apesar das melhorias recentes, continua acima da de 11% na zona euro e perto de 25% na Grécia e em Espanha. O FMI fala mesmo no risco de se registar o efeito de histerese: ou seja, depois de uma recessão profunda a economia até pode sair da crise, contudo os seus níveis de crescimento serão sempre mais baixos do que acontecia no passado.

O desemprego entre os jovens pode “danificar o potencial do capital humano” e “originar uma geração perdida”. Entre os desempregados de longa duração, o risco é o de aumentar a “erosão” das qualificação e criar desemprego “crónico”. Daí que o FMI aponte para a necessidade de maior investimento em políticas de “encorajamento” do mercado de trabalho, sobretudo as que se destinam aos mais jovens.

Grécia não é esquecida

No documento publicado esta segunda-feira, o FMI não se esquece de olhar para a Grécia, apontando “novos episódios de incerteza significativa” e utilizando termos como “volatilidade” e “contágio”. Mesmo assim, olhando para o conjunto de países do euro, “os riscos para o crescimento são agora mais equilibrados do que nos últimos anos”. Para isso contribui sobretudo a redução dos preços do petróleo, o programa de quantative easing (compra de títulos de dívida) lançado pelo Banco Central Europeu (BCE), o euro mais fraco e o aumento de confiança dos consumidores.

Contudo, há sempre o reverso da medalha: “Os riscos negativos incluem uma fraqueza persistente da economia e baixa inflação, tensões geopolíticas e volatilidade dos mercados financeiros por força de políticas assimétricas ou contágio de eventos na Grécia”, aponta. Daí que, aconselha o organismo internacional, seja necessário aos líderes europeus “utilizarem todos os instrumentos disponíveis, se necessário, para gerir os riscos de contágio que podem ter origem na Grécia”, recomenda.

Tendo em conta estes fatores, o FMI prevê o crescimento apenas “ligeiro” das economias da zona euro: em média, 1,6% a “médio prazo”.

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