2015 já fez mais mortes do que em todo o ano passado

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O ano de 2015 está a revelar-se um dos mais violentos e sangrentos dos últimos anos nas estradas algarvias. Perto de 6.000 acidentes rodoviários ocorreram na região desde o início do ano, provocando 27 mortos, mais onze do que no mesmo período de 2014 e mais treze do que em 2013. A Comissão de Utentes da Via do Infante alerta que se vive “um verdadeiro estado de guerra” na EN 125, onde muitas famílias arriscam a vida a circular numa “rua urbana” ainda por requalificar

Os acidentes estão a provocar este ano mais mortos e feridos do que em anos anteriores. Desde 1 de janeiro e até 15 de agosto, foram registados no Algarve uma média de 26 acidentes por dia, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).

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Em relação a vítimas mortais, a ANSR contabilizou um total de 27 mortes, ou seja, mais onze do que o verificado no mesmo período do ano passado (16), e mais treze do que no período homólogo de 2013 (14), que acabou por ser o melhor ano de sempre em termos de sinistralidade na região. Recorde-se que 2013 terminou com um total de 21 óbitos resultantes de acidentes rodoviários. E 2014 com 29… Este ano ainda vai a meio e são já 27 as vítimas mortais nas estradas algarvias…! (apenas as contabilizadas até 15 de agosto, mas já se registaram pelo menos mais três mortes desde então, ultrapassando o total de vítimas mortais do ano passado).

Estes dados dizem respeito a mortes ocorridas nos locais dos acidentes ou durante o transporte das vítimas para as unidades de saúde, pelo que não incluem os óbitos que se verificaram já nos hospitais.

Segundo apurou o JA, a maior parte das fatalidades acontece no período de verão (junho, julho e agosto), altura em que o número de viaturas em circulação nas estradas algarvias aumenta exponencialmente devido ao turismo. O problema é que, por um lado, os automobilistas procuram fugir ao pagamento das portagens na Via do Infante, congestionando ainda mais a velhinha estrada nacional que atravessa todo o litoral da região. Por outro, as prometidas obras de requalificação EN 125, que já deveriam estar concluídas há muito tempo, continuam a provocar conflitos de trânsito e a potenciar acidentes em vários locais.

As inaugurações pontuais acontecem a conta gotas, como sucedeu na passada segunda-feira, com a abertura da variante a Faro (ligação com a N2). Uma obra que chega atrasada cerca de três anos…!

Estrada transformada em zona de guerra este verão

Mas voltemos aos números: desde o início de 2015 e até ao final da segunda semana de agosto, as autoridades registaram um total de 5.858 acidentes rodoviários na região (média de 26 por dia), o que significa mais 669 ocorrências do que em período homólogo de 2014 e mais 656 do que há dois anos.

No que diz respeito a feridos graves, houve também um aumento, embora menos significativo. Assim, desde 1 de janeiro e até 15 de agosto, foram registadas 97 vítimas em estado grave, enquanto em igual período do ano passado tinham sido verificadas 89.

Para a Comissão de Utentes da Via do Infante (CUVI), estes números revelam que “temos um verdadeiro estado de guerra na região”, sendo que a maioria dos acidentes ocorre na EN 125, “onde muitas famílias são destroçadas”.

Segundo o movimento de luta contra as portagens no Algarve, desde o início da cobrança na Via do Infante, há cerca de três anos e meio, “já são mais de 100 vítimas mortais e muitas centenas de feridos graves” na estrada nacional.

E a sinistralidade dispara nestes meses de verão, com julho e agosto em destaque pela negativa. Exemplo disso foi o recente acidente que ocorreu na EN 125, junto a Lagoa, no dia 9 de agosto, onde perderam a vida duas pessoas e quatro ficaram feridas, na sequência de uma colisão frontal entre dois veículos ligeiros.

Já esta semana, três jovens perderam a vida numa colisão frontal na EN 125, junto à Patã.

40 mortes registadas nos últimos 12 meses

Atendendo aos números oficiais da ANSR, o cenário fica ainda mais negro para o Algarve se contabilizarmos o último ano, ou seja, entre 16 de agosto de 2014 e 15 de agosto de 2015. Neste período, o número total de vítimas mortais ascende às 40, contra as 23 verificadas no ano anterior. Pior que o Algarve, só o Porto (71), Lisboa (60) e Leiria (41).

A maioria destes acidentes acontece na estrada nacional 125, que, por estes dias, está cada vez mais congestionada. Já na Via do Infante, que perdeu metade do tráfego desde a introdução das portagens, em dezembro de 2011, os acidentes são menos comuns. Por isso, a tragédia com o autocarro dos turistas holandeses, há cerca de dois meses, foi um dos piores acidentes que há memória nesta via, que apenas ficou completa até Lagos em 2003. Neste sinistro faleceram quatro pessoas.

“É um suplício circular na EN 125”

Face a esta situação, a CUVI alerta que “é um suplício circular na EN 125, pois não passa de uma rua urbana e a sua requalificação continua a marcar passo”. Por este motivo, a comissão defende a “suspensão imediata” das portagens na Via do Infante para travar a sinistralidade na EN 125, que, por estes dias, está a disparar a olhos vistos.

Na realidade, há mais de três décadas que os algarvios reclamam por uma intervenção de fundo na estrada nacional 125, que une de uma ponta à outra o Algarve, atravessando pelo meio diversas localidades do litoral. Mas a verdade é que pouco mudou até agora nesta via, considerada uma das mais mortíferas do país…!

Em declarações recentes ao JA, o presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), que resulta da recente fusão entre a Estradas de Portugal e a Refer, garantiu que atualmente já estão reunidas as condições para avançar com alguns trabalhos na EN 125, embora a maioria das intervenções ainda esteja atrasada. Ou seja, a conclusão de todas as obras não deverá ocorrer antes do final de 2016.

Depois de concluída a requalificação de toda a EN 125, e apesar dos cortes no projeto inicial, o presidente do IP acredita numa redução dos níveis de sinistralidade grave. Além da segurança, o responsável realça que também serão feitas “importantes melhorias ao nível das acessibilidades e fluidez de circulação”.

Ainda assim, António Ramalho reconhece que será impossível corrigir ou eliminar todos os defeitos desta estrada, mesmo depois da conclusão das obras. “A EN 125 é uma estrada que atravessa todo o Algarve ligando, e muitas vezes atravessando, as mais importantes cidades da região. Tão importante estrada com elevada procura, a desenvolver-se na sua maioria em ambiente urbano, é um problema que estas obras de requalificação não irão resolver”, sublinha.

“Outra situação que também nunca será resolvida com a melhoria das condições de circulação de uma estrada” – acentua António Ramalho – “são as questões comportamentais de alguns peões e automobilistas que, infelizmente, continuam muitas vezes a colocar em risco a sua segurança e de todos que diariamente utilizam a EN 125”.

 

Nuno Couto/JA

 

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