1640 Duas datas, dois rumos na história peninsular

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Os Ligures, termo ocidental do povo ibérico precedente dos Celtas de migração expansionista, numa confinação de nomes que a história regista, sucederam na narração nominativa que posteriormente gregos, e romanos mais tarde lhe atribuiram como oriundos da Península Ibérica sucessores da civilização peninsular, que numa primeira fase expandiram-se na Europa além Grécia na idade do Ferro, cuja parte oriental da Península Ibérica começa a dar-se conta do povo ligur situado na atual região dos Países Catalães, como originariamente ainda hoje se intitulam.
– O nome de Cinetes (Cónios) surge ao séc.V no périplo de Rufio Aviénus, Orla Marítima, escrito entre 470-480 cuja população situava-se a Oeste do Anas (Guadiana) e estendia-se pelo menos até ao Sudoeste da Península Ibérica. Este era o povo do extremo da Europa (c.f. Aviénius,203) continuando mais tarde em Hérodote (11,33,IV,49), Müllenhoff (t.l.p.115) e Hübner. O território dos Cempses afigura-se corresponder à Lusitânia primitiva da região das montanhas costeiras do Oceano, do Tejo ao mar Cantábrico (c.f.Müllenhoff). Aquitânicos Cinetes (Cónios) Cempses (Lusitanos) e Ligures, ocupavam quase toda a Península Ibérica, exceto os Séfes que Avienus coloca nos galaicos, astúricos, e cantábricos.
– O geógrafo Artemidoro, séc.II, descreve assim a Península Ibérica: – O País que vai desde os Pirenéus até aos arredores de Cadiz e a terra do mel, igualmente se denomina Ibéria ou Hispania. Os romanos dividiram-na em duas províncias, a primeira estende-se desde os montes Pirenéus até Nova Cartago (Cartagena), Kastelon,(Castolo) e nascente do Bétis,(Guadalquivir); a segunda província pertence o resto do território até Cadiz e toda a região Lusitana. – Apiano de Alexandria séc.I a.C., sobre a geografia peninsular dizia que a extensão da Ibéria – a que alguns agora chamam de Hispania – é enorme e inacreditável para se tratar de um só país. É habitada pelos iberos e ligures-celtas e situa estes na parte oriental-sul pirenaica. Sobre os fenícios, supostos primeiros frequentadores do litoral ibérico, diz que navegavam com frequência desde época remota por razões de comércio, seguido dos gregos pelo mesmo motivo, acrescenta:- Este País afortunado e cheio de grandes riquezas, foi beligerantemente explorado pelos cartagineses antes dos romanos; e Estrabão diz-nos que (… A Setentrião do Tejo estende-se a Lusitânia a mais forte das nações iberas e a que durante mais tempo lutou com os Romanos. Limitam esta região, pelo Sul, o Tejo; por Oeste e Norte, o Oceano e por Este, as terras dos carpetanos, vetões, vascões, e galaicos, para apenas citar os mais conhecidos. Os demais povos não são dignos de menção por causa da sua pequenez e pouca importância..)
– Os iberos-ligures ocupavam a zona Leste da Península até Cartago, (Cartagena) região atual dos países catalães, que se desdobravam em pequenos povos que iam dos Bastetanos,(atuais províncias de Granada, Albacete, e Málaga) Contestanos, (Murcia, e Valência) LLercavones, (território do Ebro, Castellon, e Tarragona) LLergetes, conhecido posteriormente como ‘’a tarraconense’’, que ia do Baixo Urgel até ao rio Ebro na Catalunha Ocidental até Sordones, situado no Mediterrâneo na atual França, ocupando a parte norte do antigo Rossillon (Rossilhão) e Cerdagne, hoje Pireneus Orientais franceses que ainda hoje portam as cores catalãs.
– Francisco Martins Sarmento, historiador, considerava os lusitanos como ligures, Estrabão, citando Eratóstenes, (ll,1,40) chamava Ligústica à Península Ibérica, e Tucídides, na guerra de Peloponeso “livro VI”, diz que os ligures expulsaram os iberos da zona do rio Sicano (rio Segre localizado no Leste da Espanha) onde se estabeleceram na Sicania (Sicília) dando-lhe o nome da sua região iberina, distendido ao Noroeste de Itália. No périplo do Pseudo-Escilax, garante que a origem dos ligures é no território que hoje é a Catalunha e países catalães que se estenderam além do rio Ródano. Nesta obra também se informa que na grande Ibéria viviam misturados iberos-ligures, e celtas-ligios; Estevão de Bizâncio, baseado em texto mais antigo, referia-se à Ligustina como cidade importante dos ligures localizada na Ibéria Ocidental.
– Sucedãneos dos iberos, os ligures habitaram uma grande parte do território peninsular no neolítico, podendo identificá-los na cultura de Alpiarça relacionada com a “cultura das urnas” “na Cabeça da Bruxa” zona habitacional do calcolítico, com artefactos paleolíticos, vasos campaniformes, cerâmica neolítica feita ao forno, urnas pré-romanas, etc., Herodoto (VII,72) situa o expansionismo ligur em grego “ligios” da Ibéria à Anatolia.
– A romanização da Península começa na Catalunha com a construção de Tarraco, (Tarragona) em 218 a.C., construindo a partir daí a via Augusta, a primeira grande via terrestre que iria ligar toda a Península Ibérica “na conquista libertadora de Roma” aos cartagineses, e residência do imperador César Augusto situada na Hispania Citerior. – No séc.XII a Catalunha abrangia Andorra, Confient, e Cerdanha, (chamados países catalães) no Sul pirenaico francês.
– Fronteiras de povos e línguas que através dos séculos se vai preservando apesar do bailado nas mudanças periféricas que invasões, tratados, alianças, tentam eliminar o caracter principal de vivência comunicativa, língua, história, e “modus vivendis”, desde romanos com a sua “Pax Romanorus” e consequente romanização, seguindo depois invasões e guerras até estabelecimento dos povos ibéricos nas suas fronteiras, vieram então as alianças, casamentos, e sequentes direitos sucessórios políticos entre nações que foram sempre causa de anexações, revoltas, e guerras. Na Península o sonho conquistador de monarquias e impérios, foi de constituir territorialmente um grande País englobando variadas nações, cujo rei, imperador, ou chefe da nação dominante, fazia tratados (segundo a época) que respeitariam os aliados desse nóvel grande País, componente plularizada de nações, protegeria e defenderia o ou as nações, e honrar a vida autónoma da nação ou nações com que se aliava.
– Em Portugal, após a morte do rei Cardeal D.Henrique houve dois herdeiros da Coroa, um português D. Antonio Prior do Crato, outro castelhano Filipe II, resultante do desaparecimento do rei Sebastião, e o aniquilamento do exército português que ficou à mercê da contenda entre a limitada força armada de D. Antonio, e as superiores forças militares do rei castelhano. Na guerra da sucessão D. Antonio perde, e a Coroa portuguesa ficava nas mãos da futura Espanha que se comportará como país conquistador. Durante 60 anos a tudo faltou; utilização do tesouro nacional, gigantes gastos económicos na preparação da Armada Invencível que Madrid tinha como objetivo a destruição da Inglaterra rasgando assim o tratado mais velho do mundo, implicando navios e marinheiros de que Portugal possuía a maior Armada do planeta, conjuntamente com o resto da marinha espanhola; As Cortes em Madrid; cargos ocupados pelos castelhanos; nobres e dirigentes a perder privilégios e obrigados alistarem-se na marinha e exército castelhano, suportando todas as despesas; o reino de Portugal entregue a nobres castelhanos, e os portugueses afastados da vida palaciana e política. Todos os acordos de Tomar -1581 – foram rasgados, e o descontentamento não se limitava só a Portugal. Na Catalunha e Andaluzia rebentavam revoltas independentistas, e guerra noutros países. A 12 de Outubro de 1640 beneficiando já da independência da Catalunha os 40 Conjurados reuniram na casa de D. Antão de Almada (atual Palácio da Independência) com a assunção de D. João, Duque de Bragança assumir a Defesa e a Coroa de portuguesa, e daí partiram há 377 anos em 1640 no 1° de Dezembro com o apoio do futuro rei de Portugal D.João IV entram nos Paços da Ribeira, onde foi destituido o Poder espanhol após 60 anos, apesar das sucessivas batalhas de Montes Claros e Montijo.
– No dia 7 de Junho do mesmo ano de 1640 em que Portugal se torna independente, no outro extremo a Oriente da Penísula deu-se “La guerra dels Segadores” tendo na sua origem a separação da Catalunha da monarquia filipina de Castela pelo mesmo motivo dos portugueses, mas antes do 1° de Dezembro, Filipe IV tinha mandado apresentar em Madrid o duque de Bragança para o acompanhar à Catalunha e colaborar para pôr fim à revolta catalã, assim como a muito outros nobres portugueses que se recusaram obedecer ao rei de Espanha. No combate onde os catalães tiveram de enfrentar o exército de 25.000 soldados castelhanos sediados em Valência contra as suas tropas, não constituíam mais que 9.000 soldados. Contudo, para consolidar a sua independência aliaram-se à França que nos pactos de Peronne a 23 de Janeiro de 1641 garantiam a continuidade constitucional e política catalã, o que sucedeu com a conclusão efetiva da separação catalã da monarquia de Castela, na qual a Generalitat com o apoio de seu aliado francês no conflito catalão-hispânico assegurou-lhe pacto militar e fiscal no desenvolvimento sequente económico-social. Porém, sendo o aliado da Generalitat Luís XIV ainda “puer”, a França teve todavia na infância do rei a revolta nobiliária de Fronda, que originou nos anos seguintes o abandono dos apoios que contribuiram para a defesa do território catalão, da qual retirada sucessiva das importantes forças francesas aliadas da Catalunha desviadas para combater a revolta dos nobres de França, contribuiu para a progressão beligerante de Castela.
– Com o problema de Portugal ainda não resolvido, Castela aproveita-se do caos militar e político atendendo à situação francesa que deixava de manter em grande parte os préstimos da sua aliança, o que facilitou a reentrada castelhana na Catalunha com a queda de Barcelona em 1652 após resistência de 15 mêses de cerco. Com a assinatura do tratado dos Pirinéus entre a monarquia francesa e castelhana, foi estabelecida na Penísula a fronteira com os Pirenéus.
– “A França fica com o Rosselló, Confient, e parte da Cerdanya, Filipe IV com o principado da Catalunha e o que restava da Cerdanya. O Tratado dos Pirenéus nunca foi reconhecido pela Catalunha.

António Sustelo

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